15.11.09

José Antonio Muñoz Rojas (Teu ofício, poeta)






TU OFICIO, POETA





Para que algo quede de este latir,
para que, si alguien quiere mirarse, pueda;
para calmar quizá alguna sed, y que alguien diga
«a mí me pasó algo semejante».
Los poetas estamos para eso:
para ofrecerles tránsito a los demás,
para que se encaramen sobre nuestros latidos, y que divisen
un poco más allá, en medio
de tanta oscuridad como nos circunda.
A veces nada tiene sentido, ni siquiera
que me des la mano o esse
limón redondo tan bello en la vereda.
A veces lo que tiene sentido no tiene sangre,
ese poco de sangre por la cual se muere.
Todo es ganas de morir de otra manera,
ganas de imitar a los ríos y que la tierra vea
que hay otras aguas y otras penas, y los cielos
contemplen misericordiosamente
nuestras peregrinaciones.
Tu oficio, poeta, es contemplar,
que todo se te escriba dentro; luego,
quizá leer allí mismo, quizá decir a los otros
lo que allí mismo, escrito, tú lees.



José Antonio Muñoz Rojas







Para que algo fique deste latir,
para que, se alguém quiser olhar-se, possa;
para acalmar talvez alguma sede, ou que alguém diga
“a mim aconteceu-me algo semelhante”.
Nós poetas estamos cá para isso,
para dar passagem aos outros,
para que se empinem sobre nossos latidos
e vejam um pouco mais longe
no meio desta escuridão que nos envolve.
Às vezes nada tem sentido, nem mesmo
o dares-me a mão ou esse
limão redondo tão belo na vereda.
Às vezes o que tem sentido não tem sangue,
esse pouco de sangue por que se morre.
Tudo é sede de morrer de outra maneira,
vontade de imitar os rios e que a terra veja
que há outras águas e outras penas e os céus
contemplem misericordiosamente
nossas peregrinações.
Teu ofício, poeta, é contemplar,
que tudo se te escreva dentro; depois,
ler talvez aí mesmo, ou talvez dizer aos outros
o que ali mesmo, escrito, tu consegues ler.


(Trad. A.M.)



Fontes: Cervantes (antologia+perfil) / A media voz (21p)