8.6.09

Manuel António Pina (Saudade da prosa)









SAUDADE DA PROSA




Poesia, saudade da prosa;
escrevia «tu», escrevia «rosa»;
mas nada me pertencia,
nem o mundo lá fora
nem a memória,
o que ignorava ou o que sabia.



E se regressava
pelo mesmo caminho
não encontrava



senão palavras
e lugares vazios:
símbolos, metáforas,



o rio não era o rio
nem corria e a própria morte
era um problema de estilo.



Onde é que eu já lera
o que sentia, até a
minha alheia melancolia?



Manuel António Pina