19.6.09

Nuno Júdice (Durante um passeio)







DURANTE UM PASSEIO, NO CAMPO, UMA ÁGUIA




Desce ao nível do monte onde estou,
encostado às pedras que sobram do moinho antigo.
Paira, negra, no ar cuja transparência
se vai tornar azul, no cimo, e cinzenta
no horizonte onde o mar se adivinha.
Fica imóvel, como se fixasse a presa,
ou se tivesse esquecido da lei da gravidade.
No entanto, tem as asas bem abertas; só,
a esta distância, não é possível
ver-lhe os olhos.
Ao mesmo nível, eu e ela, apercebemo-nos
das diferenças mútuas:
presa ao espaço em busca da presa, ela;
com os pés na terra, voando em direcção
à sua imagem, eu.


NUNO JÚDICE
O Movimento do Mundo
(1996)

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