14.6.09

José Miguel Silva (Má sorte que ela fosse mercenária)









MÁ SORTE QUE ELA FOSSE MERCENÁRIA





Não era só a bela do bairro, era a lusa Marilyn
dos arrabaldes portuenses. Alta, toda loira,
só faltava miar. De longe e de perto a segui
ao longo dos anos mais tolos. Uma tarde,
no acaso de uma rua: meu amor perdido,
você ainda mora em Vilar do Paraíso?
Quando eu telefonei dias depois
ela me perguntou quanto é que eu ganhava.
Ao saber que era tudo lágrimas e livros,
ouvi — ai sim? — como arrefecia o paraíso
do outro lado da linha. Os meus vinte e cinco anos
aprenderam aí uma lição qualquer.
Mas já não me lembro muito bem
que aplicação ela teve, na gorada sequência
desses meses. A que só volto agora
porque já posso rir à vontade.



José Miguel Silva


.