HEILIGER TOD
Não é uma fotografia artística.
Se fosse, não falaria dela.
Estou ao lado do meu avô,
pareço feliz e ele também,
encostados a sorrir debaixo
de uma buganvília. A alegria
dele é simples, muito de avô sentado
com chapéu de feltro antigo.
A minha, por sua vez, segura
na mão a caixa de soldados nazis
que matavam ou morriam,
obedecendo a uma inocente decisão.
Não é uma fotografia artística.
Se fosse, não falaria dela.
Estou ao lado do meu avô,
pareço feliz e ele também,
encostados a sorrir debaixo
de uma buganvília. A alegria
dele é simples, muito de avô sentado
com chapéu de feltro antigo.
A minha, por sua vez, segura
na mão a caixa de soldados nazis
que matavam ou morriam,
obedecendo a uma inocente decisão.
Ainda existirão soldadinhos?
Agora, com a idade que
tenho na mesma fotografia,
pegam numa arma e matam
porque sim, dispensando intermediários,
simulacros, lúdicas insinuações.
terão talvez maior razão, não sei.
Têm, seguramente, uma eficácia maior:
matam em vez de quererem matar.
E é belo, sempre o soubemos,
este paiol de esterco chamado humanidade.
Ninguém, da fotografia, sobreviveu.
Manuel de Freitas
.
.
.
Fontes: Poetry int (nota+8p) / Poesias e prosas (8p)