20.2.13

Paulo Moreiras (Custódio Henriques)





Custódio Henriques Brás regressou a Chão de Couce, depois de vazado o calhandro, estrelando ares de pintalegrete, com o coração a estrepitar de alegria por ter caído nas boas graças do corregedor, depois daquele cortejo de caraminholas e trampolinas sobre Vicente Maria.

A caixa do peito parecia pequena para conter o tamanho contentamento que palpitava dentro; um pouco mais e rebentava como as fartas morcelas na sertã, quando picadas com a ponta de uma faca.

“Agora aquele peralta vai ver com quantos nós se faz uma corda”, dizia para si o Trombeta, soltando de quando em vez umas cachinadas, antevendo os imbróglios em que o corregedor colocaria Vicente da Bufarda.

Tais pensamentos e maquinações sabiam-lhe pela vida.


PAULO MOREIRAS
O Ouro dos Corcundas
Casa das Letras
(2011)

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