24.10.11

Aquilino Ribeiro (Estava feito o sementio)






Estava feito o sementio dos pães e dos nabais, e cabaneiros e lavradores abalavam para a serra a rapar o codeço e o tojo com que lastrar novamente os estábulos.

Vinha lá o Inverno – ouvia-se zoar muito a ribeira, e a serra da Estrela mostrava desde a ante-véspera os corutos emaçarocados de neve.

E a chuva já estava em atraso, o grão por grelar na terra esmilhenta, onde os borborinhos faziam espojadoiros pasmosos de lobisomens.

Seitosa ia-se acomodando à vida de inverno.

Alpendres atestados de lenha, os pretos – com vosso perdão – a caminhar para o chiadoiro, arcas cheias, a semente lançada à terra, o ladrão podia vir mai-la a sua grande récua de excomungados, o carujo, a saraiva, as moscas brancas, e o taró de rachar.

Capucha de burel, apisoado em Fráguas, em volta do peitaço, morca farta de torresmos, socos de encoiras altas, o serrano estava-se nas suas sete quintas e deixá-lo zurrar, que se acabasse o mundo.


- AQUILINO RIBEIRO, Terras do Demo, 1.ª parte, XI.

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