21.6.25

Mario Montalbetti (Desculpe, a tabacaria?)




DISCULPE, ¿ES AQUÍ LA TABAQUERÍA?

 


Nadie dice todo. Nadie dice nada.
Lo deseable es decir poquísimo.
Callar no es más radical.
Callar es como raparse la cabeza:
el pelo vuelve a crecer.
Pero decir poquísimo, decir lo mínimo
que uno puede decir,
eso es lo que nos permite decir algo.
 

Mario Montalbetti 

  

Ninguém diz tudo. Ninguém diz nada.
O melhor é dizer pouquíssimo.
Calar não é mais radical.
Calar é como rapar a cabeça,
o cabelo volta a crescer.
Mas dizer pouquíssimo, dizer 
o mínimo que se pode dizer,
isso é que nos permite dizer algo.
 

(Trad. A.M.)

 .

20.6.25

Javier Olalde (Plano final)




PLANO FINAL 

 

Escribo de memoria aquel silencio
entre miradas que se rehúyen,
ese desastre categórico
de cuando todo está ya dicho
aun sin decirse
y esa manera de dividir el mundo
antiguo
en dos mitades divergentes. 

Escribo de memoria ese momento
divisorio
de volverse de espaldas y alejarse
clausurando el relato compartido. 

Además,
debería llover,
aunque fuese verano,
en el plano final de la secuencia.
 

Javier Olalde

  

Escrevo de memória aquele silêncio
entre olhares que se evitam,
esse desastre categórico
de quando tudo está dito
antes de dizer
e essa maneira de dividir o mundo
antigo
em duas metades divergentes.

Escrevo de memória esse instante
divisório
de voltar as costas e afastar-se
encerrando o conto partilhado.

Além disso,
deveria chover,
apesar de ser verão,
no plano final da sequência.


(Trad. A.M.)

.

18.6.25

Auto-diálogo (CA-8)

 




AUTO-DIÁLOGO



Digo para mim mesmo:

- Ninguém te vai chorar, na morte…


E logo vem a resposta:

- Não me faz diferença nenhuma!



(A.M.)


16.6.25

Roberto Malatesta (A força do não fazer)




LA FUERZA DEL NO HACER

 

No hacer nada requiere fortaleza,
los débiles sucumben sin trabajo,
lo inventan si escasea, no pueden con el ocio.
Por el contrario el que no hace nada resiste
todas las tentaciones que atañen al trabajo.
Entonces es llevado al borde del barranco
tal como Cristo: arrójate, tómalo todo, adórame.
Y en su desierto del no hacer
persiste adusto y pobre,
cultiva la gran fuerza del que sabe
uál es su sitio y su destino entre los hombres.
No hacer nada requiere fortaleza,
su origen es el don y a su conocimiento
sólo acceden aquellos para el cual son llamados.
 

Roberto Malatesta

 

Não fazer nada requer fortaleza,
os fracos sucumbem sem trabalho,
inventam-no se escasseia, não suportam o ócio.
Pelo contrário, quem não faz nada resiste
a todas as tentações que respeitam ao trabalho.
Vai então, levado à beira do abismo,
tal como Cristo: atira-te, toma tudo, adora-me.
E no seu deserto de não fazer
mantém-se adusto e pobre,
cultiva a grande força de quem sabe
qual é o seu lugar e seu destino na terra.
Não fazer nada requer fortaleza,
a sua origem é uma bênção e só os escolhidos
lhe acedem ao conhecimento.

 
(Trad. A.M.) 

 

>>  Noticias (20p) / Marcelo Leites (17p) / La Pecera (5p)

.

15.6.25

Óscar Alonso Pardo (Testamento)




TESTAMENTO

 

Si alguna vez el alzheimer
   se apodera de mis recuerdos
decidme que viajé a lugares remotos
en busca de tesoros escondidos
que me acosté con las mujeres más hermosas
que escribí los versos más bonitos
   que jamás se escribieron
que tuve muchos amigos
y una familia que me quiso.

Decidme todo eso
aunque sea mentira.

Si alguna vez
   no recuerdo mi nombre
decidme que fui
   un hombre feliz.

Óscar Alonso Pardo



Se o alzheimer algum dia
se apossar das minhas lembranças
dizei-me que viajei para remotos lugares
buscando tesouros ocultos
que me deitei com as mulheres mais belas
que escrevi os versos mais lindos
               que jamais foram escritos
que tive muitos amigos
e uma família que me amou.

Dizei-me isso tudo
mesmo que seja mentira.

Se algum dia
               eu não lembrar o meu nome
dizei-me que eu fui
               um homem feliz.


(Trad. A.M.)

 .

13.6.25

Owen Bullock (Melhor não fazer nada)




better
to do nothing
than to interfere . . .
a butterfly flutters
through the borage


Owen Bullock



melhor
não fazer nada
do que interferir…
uma borboleta esvoaça
pelo meio da borragem


(Trad. FJCC)


.

11.6.25

Mario Miguez (Surpresa)




SORPRESA

 

Nunca debes buscar palabras raras
para crear sorpresa.
Es justo lo contrario:
lograr que unas palabras ya muy viejas
y en ti sencillas, claras, renovadas,
de pronto, en el poema, nos sorprendan.

 

Mario Míguez

[Autorretrato en espejo convexo]

 

 

Não busques nunca palavras estranhas
para criar surpresa.
É justamente o contrário, 
fazer que algumas palavras mais antigas,
por si simples, claras, renovadas, 
de repente, no poema, nos surpreendam.

(Trad. A.M.)

 .

10.6.25

Mario Benedetti (Quando éramos pequenos)




CUANDO ÉRAMOS NIÑOS

  

Cuando éramos niños
los viejos tenían como treinta
un charco era un océano
la muerte lisa y llana
no existía. 

Luego cuando muchachos
los viejos eran gente de cuarenta
un estanque era un océano
la muerte solamente
una palabra. 

Ya cuando nos casamos
los ancianos estaban en los cincuenta
un lago era un océano
la muerte era la muerte
de los otros. 

Ahora veteranos
ya le dimos alcance a la verdad
el océano es por fin el océano
pero la muerte empieza a ser
la nuestra.
 

Mario Benedetti 

 

Quando éramos pequenos
os velhos tinham à roda de trinta anos
um charco era um oceano
a morte chã e lisa
não existia.

Depois, em rapazes,
os velhos eram pessoas de quarenta,
um tanque era um oceano,
a morte somente
uma palavra.

Já quando nos casámos,
os anciãos estavam nos cinquenta,
um lago era um oceano,
a morte era a morte
dos outros.

Agora veteranos,
alcançamos por fim a verdade,
o oceano é enfim o oceano
e a morte começa a ser
a nossa.


(Trad. A.M.)

.

8.6.25

Rui Caeiro (Fica e é só o que fica)




Fica e é só o que fica: o primeiro encontro
o primeiro beijo numa gare deserta
o mar por líquida ou aérea testemunha

depois a longa gestação do adeus
único e verdadeiro adeus
o subtil envenenamento da memória

 

Rui Caeiro

 .

6.6.25

Marilyn Contardi (Antecipação)




ANTECIPAÇÃO 

 

 

Quem olhará estes céus cor de rosa

quando eu já os não vir?

 

Quem assomará à janela

a cheirar os jasmins em flor?

 

Passam invernos e primaveras,

um dia entre outros há-de trazer a morte.

 

Quando chegar o momento,

quem me fitará com olhos bondosos

 

e me dará a mão enquanto eu me afasto?

 

Marilyn Contardi

 

(Trad. A.M.)

 

 .

5.6.25

Mariano Peyrou (Convivência)




CONVIVENCIA 

 

Parecen más, pero sólo
son doce meses. En enero
nos miramos un rato: un laberinto no para salir.
En enero te espero / como cada febrero,
le escribí a la amiga que me escribe,
y febrero sube y baja, baja
y sube, da luz a una esperanza y la
inestabilidad nace en seguida, cuando
llega marzo, cuando miramos atrás
suponiendo y creyendo que ya ha pasado algo:
la ilusión de que lo insignificante
significa, todo
parece inflado como el tiempo.
En abril nos miramos
un rato, miramos lo que pide
no ser visto, vemos lo que no queríamos
mirar. Pasan las encinas y los verdes del campo,
lo lejos-cerca de mirar el campo desde un
tren, porque se mueve, o desde un collado,
porque está alto. Mayo vuela hacia afuera
y me propone mi mejor autorretrato:
melancólico y risueño. Vuelo hacia
mayo, mayo vuela hacia ti, tú
miras. Dos más dos son
junio, seis por tres son junio, logaritmo
en base junio y no quiero ni sé
seguir, pero se trata de seguir, la esperanza
con su aritmética sexy. Ahora
nos fijamos en un detalle mínimo
que marca la diferencia entre lo igual
y lo diferente, o que los iguala: julio
cae con su invierno y asciende
con su asombro, mi asombro, tu
desilusión. Julio acaricia y rasca.
Julio olvida, tiembla con su siempre-nunca
y su agosto, cuando te suelto, me
sueltas, y así podemos soltándonos retroceder
hasta septiembre. Septiembre, lleno
de meses, de años, cuenta
los meses hacia atrás, cuenta
los años hacia adentro. La marea
de octubre trae de todo: un zapato
de antes de que se inventara el pie, un
beso de antes de que se inventara la memoria,
una red, una botella llena de mar y de octubre.
Paseo por la orilla de octubre metiendo
los pies en la red a ver qué pasa. No
quiero pedir ayuda y no sabría.
Amargado y cobarde es ahora
mi mejor autorretrato, renovado en
noviembre, y ahora toca morir en secreto: todos
sabemos hacerlo, sabemos también nacer
de nuevo preparándonos para el final,
esquivar el final y mirarnos otro rato soñando
con lo que vemos y se acerca lejos.


Mariano Peyrou

[Fronterad]

 

 

Parecem mais, mas são
só doze meses. Em Janeiro
observamo-nos um bocado: um labirinto não para sair.
Em Janeiro te espero/ como todo Fevereiro,
escrevi eu a uma amiga que me escreve,
e Fevereiro sobe e desce, Desce
e sobe, dá luz a uma esperança e a
instabilidade nasce depois, quando
chega Março, quando olhamos para trás
supondo e acreditando que algo sucedeu,
a ilusão de que o insignificante significa, tudo
parece inchado como o tempo.
Em Abril observamo-nos
um bocado, observamos o que pede
para não ser visto, vemos aquilo que não queríamos
observar. Passam as azinheiras e os verdes do campo,
o longe-perto de observar o campo de um comboio,
porque se move, ou de um outeiro, porque está alto.
Maio voa para fora e propõe-me meu melhor auto-retrato:
melancólico e risonho. Voo para
Maio, Maio voa para ti, tu
observas. Dois mais dois são
Junho, seis por três são Junho, logaritmo
em base Junho e não quero nem sei
continuar, mas trata-se de continuar, a esperança
com sua aritmética sexy. Agora
atentamos num detalhe mínimo
que marca a diferença entre o igual
e o diferente, o que os iguala: Julho
cai com seu inverno e ascende
com seu assombro, meu assombro, tua
desilusão. Julho afaga e arranha.
Julho olvida, estremece com seu sempre-nunca
e seu Agosto, quando te solto, tu
soltas-me, e assim podemos soltando-nos retroceder
até Setembro. Setembro, cheio
de meses, de anos, conta
os anos para dentro. A maré
de Outubro traz de tudo; um sapato
de antes da invenção do pé, um
beijo de antes da invenção da memória,
uma rede, uma garrafa cheia de mar e de Outubro.
Passeio pela beira de Outubro, metendo
os pés na rede, a ver o que acontece. Não
quero pedir ajuda, nem saberia.
Amargurado e cobarde é agora
meu melhor suto-retrato, renovado em
Novembro e agora vá de morrer em segredo: todos
sabemos fazê-lo. Sabemos também nascer
de novo preparando-nos para o final,
fugir ao final e observar-nos mais um bocado
sonhando com o que vemos e se aproxima ao longe.


(Trad. A.M.)

.

3.6.25

Owen Bullock (Ao passar a esquadra)




passing the police station
I feel my immaturity
is criminal
yet there’s nothing
to turn myself in for


Owen Bullock



ao passar a esquadra
acho que a minha imaturidade
é criminosa
não há contudo razão nenhuma
para me entregar



(Trad. FJCC)



>>  Fevers of the mind (muitos p) / U. Canberra (perfil) / Google Scholar

.

1.6.25

Mariana Finochietto (Devia estar triste)




Debería estar triste.
Debería
tener mi corazón apertadito
como cuando se es joven
y duele.

Debería
extrañarte y salir a la calle
cubierta por el manto gris de la melancolia
y no mirar a otros hombres
para sólo pensarte,
porque se es fiel a la ausencia de quien se ama.

Porque te amo, en fin,
y te abandono
sin arrojarme del acantilado de tu nombre.

Te abandono
con todo el amor con que te quise
porque en toda buena historia es conveniente
saber cuándo poner el punto de todos los finales.


Mariana Finochietto

[Emma Gunst]



Devia estar triste,
devia
ter o coração apertadinho
como quando se é jovem
e sofre.

Devia
sentir-te a falta e sair à rua
coberta pelo manto cinza da melancolia,
não olhar para outros
e pensar só em ti,
por ser fiel à ausência de quem se ama.

Porque te amo, enfim,
e te abandono
sem me atirar da falésia de teu nome.

Abandono-te
com todo o amor com que te quis
porque em qualquer história convém
saber quando pôr o ponto de todos os finais.


(Trad. A.M.)

.

31.5.25

María Zambrano (Nem brisa, nem sombra)




Ni brisa ni sombra.
¿Por qué, muerte, así te escondes?
Sal, salte, sácate de tu abismo,
escápate tú, ¿Quién te retiene?
¿Por qué no borras con tu mirada el universo?
¿Por qué no deshaces las piedras
con tu sombra, muerte, sólo con tu sombra,
con tu mano desnuda,
con tu rostro de estatua,
desnuda presencia a quien nada resiste?
Enseña, muestra tu cara a los mundos,
que ya no haya espacio,
ni cielos, ni viento, ni palabras.
Quiero hundirme en el silencio.

María Zambrano

 

 

Nem brisa nem sombra.
Porquê, morte, assim te escondes?
Sai, anda, tira-te de teu abismo,
foge, quem te retém?
Porque não apagas com teu olhar o mundo todo?
Porque não desfazes as pedras
com tua sombra, morte, com tua sombra só,
com tua mão nua,
com teu rosto de estátua,
presença nua a que nada resiste?
Anda, mostra a cara ao mundo,
que não haja mais espaço,
nem céu, nem vento, nem palavras.
No silêncio eu quero afundar-me.


(Trad. A.M.)

.

29.5.25

Paulo Henriques Britto (Embora não fôssemos)




Embora não fôssemos nem um pouco
como duas gazelas se apascentando entre as açucenas,

nem muito menos como um rebanho de cabras
que descesse as colinas de Galaad,

nem por isso merecíamos ser confortados,
em vez de com bálsamos e maçãs,

com meio vidro de formicida cada um
num quarto de hotel barato em Cafarnaum.


Paulo Henriques Britto

.

27.5.25

Miguel Sánchez-Ostiz (Miliário negro)




MILIARIO NEGRO

 

 

Cada día más lejos
del que fuiste
del que no conseguiste ser
cada día más lejos de ti mismo
mudo ciego desconocido
detrás de tu propia sombra
siempre en fuga.

 

Miguel Sánchez-Ostiz

[Hector Castilla]



Cada dia mais longe
do que foste 
do que não conseguiste ser
cada dia mais longe de ti mesmo 
mudo cego desconhecido 
atrás da tua própria sombra
sempre em fuga.


(Trad. A.M.)

 .

26.5.25

Óscar Alonso Pardo (À traição)



A TRAICIÓN

 

Me gusta andar sin rumbo fijo
dejándome llevar por mis zapatos
cruzar las calles de mi ciudad en pleno invierno
sintiendo el frío de la mañana,
mirar el río, que se funde entre la niebla,
y pensar que la vida merece la pena, sí,
aunque a veces nos sorprenda por la espalda,
la muy hija de puta,
con un maldito puñal entre sus garras.


Óscar Alonso Pardo

 

Gosto de andar sem rumo,
deixar-me levar pelos sapatos,
correr as ruas da cidade em pleno inverno
a sentir o frio da manhã,
olhar o rio, mergulhado no nevoeiro,
e pensar que a vida merece a pena, sim,
apesar de às vezes nos enganar pelas costas,
a filha da puta,
com um maldito dum punhal entre as garras.


(Trad. A.M.)


>>  Hector Castilla (10p/e mais) / Libros y aguardientes (3p) / Facebook

.

24.5.25

Ricardo Silvestrin (Não mais que a beleza)




não mais que a beleza de um artista
que faz o que quer porque sabe fazer
o que quer

não mais que a indiferença do tempo
transformando tudo em passado
até a grandeza

não mais que o afeto por coisas
idéias bichos pessoas
dado de graça

não mais que o ficar em silêncio
na beira da praia
com os olhos abertos

não mais que o respeito pela palavra
mesmo que ela seja usada contra você
e é


Ricardo Silvestrin

.

22.5.25

Jesús Jiménez Domínguez (O mundo em quarentena)




EL MUNDO EN CUARENTENA

 

Tras muchos días de niebla
convaleciendo entre algodones,
las cosas del mundo se curaron
y volvieron a ser ellas mismas:
la rama ya no quiso ser el pájaro,
ni la piedra quiso ser el agua,
ni la realidad quiso ser el deseo. 

Emergieron de la niebla más dulces,
más dóciles y más blandas.
Aquí están: igual que si alguien,
durante todo este tiempo,
hubiera hundido en la leche
los trozos duros del pan.


Jesús Jiménez Domínguez

 

 

Após muitos dias de névoa,
convalescendo entre algodões,
as coisas do mundo sararam
e tornaram a ser elas mesmas:
o ramo não quer já ser pássaro,
nem a pedra quer ser água,
nem a realidade desejo.

Emergiram do nevoeiro mais doces,
mais suaves, mais dóceis.
E aqui estão, tal como se alguém,
este tempo todo,
mergulhasse no leite
os bocados duros do pão.


(Trad. A.M.)

.

21.5.25

Luis Eduardo García (Mau dia)




MAL DÍA

 

Mientras ves el capítulo final
de Las mansiones más lujosas del mundo
se acaba el oxígeno
de tu pecera.

Luis Eduardo García

 

Enquanto vês o último capítulo
de ‘As mansões mais luxuosas do mundo’
acaba-se-te o oxigénio
do teu aquário.


(Trad. A.M.)

.

19.5.25

Maria Esther Maciel (Onde o poema)




ONDE O POEMA


Entre o nervo e o osso
Entre o eco e o oco
Entre o mais e o pouco
Entre a sombra e o corpo
Entre a voz e o sopro
Entre o mesmo e o outro


Maria Esther Maciel

.

17.5.25

María Laura Decésare (Perguntas sem resposta)




PREGUNTAS SIN RESPUESTA 

 

Extraño nuestra casa,
moverme como un gato.
Perder el tiempo
observando la noche.
Echo de menos el silencio
que nos habitaba,
el tictac del reloj
que nunca tuve, el aroma
 café de madrugada, la pila
de libros sobre la mesa
pero sobre todo extraño
las preguntas sin respuesta.
 

María Laura Decésare

  

Falta-me a nossa casa,
eu mexer-me como um gato.
Perder o tempo 
a observar a noite.
Sinto falta do silêncio 
que nos habitava,
o tiquetaque do relógio
que nunca tive, o cheiro
a café de madrugada, a pilha
de livros sobre a mesa
mas faltam-me sobretudo
as perguntas sem resposta.
 

(Trad. A.M.)

 .

16.5.25

Miguel Sánchez-Ostiz (Argizaiola)




ARGIZAIOLA

 

Y nos hacemos memoria antigua descendiendo.
Descendiendo hasta el patio infantil de grava y moscas,
hasta la silenciosa compañía del juguete roto
en la casa enemiga,
hasta la matriz
y hasta el primer beso ácido
que todavía en el sueño inquieto del verano
la lengua trenza y atenaza,
y hasta esa primera mano
que enredó en nuestro pelo,
y hasta el asombro nunca apagado
de amanecer junto a otro cuerpo,
y hasta el envidiado pájaro:
ese pálpito primero.
Y también, descendiendo, poner la mirada
en el diente que insomne desgarra la sábana
sin descorrer por ello los velos de la sorpresa.
Y así mismo, enroscándonos,
descender a la herida y a la fiebre
y al primer terror
y siempre al primero y al segundo cuerpo.
Hasta la luz y hasta la muerte descendiendo.

Miguel Sánchez-Ostiz



Descendo, nos fazemos memória antiga.
Descendo até ao pátio infantil de cascalho e moscas,
até à silenciosa companhia do brinquedo partido
na casa inimiga,
até à matriz
e ao primeiro beijo ácido
que no sonho inquieto do verão
a língua tece e atazana,
e até essa mão primeira
que nos passou pelo cabelo,
e até ao assombro nunca desfeito 
de amanhecer junto de outro corpo,
e até ao invejado pássaro,
esse pressentimento primeiro.
E também, descendo, pôr o olhar
no dente que rasga o lençol,
sem levantar por isso os véus da surpresa.
E outrossim, enroscando-nos,
descer à ferida e à febre e ao primeiro terror
e sempre ao primeiro e ao segundo corpo.
Até à luz, até à morte,
sempre descendo.


(Trad. A.M.)

 

>>  Zenda (5p) / Hector Castilla (5p/ e mais) / Vivir de buena gana (blogue) / Wikipedia

.

14.5.25

Rui Caeiro (Ainda atacas)




Ainda atacas
como pode atacar um amor já ido
lá de vez em quando ainda atacas
irrompes num súbito alarme
sacodes-me de alto a baixo
impiedosa
mente
sacodes
me
e devagar te afastas
como um sol a pôr-
-se


Rui Caeiro

.

12.5.25

Jacob Iglesias (Respostas)




RESPUESTAS



Aún tardarás años en encontrarlas.
Tantos, que cuando ya las poseas,
si es que eso llega a suceder,
ya no sabrás qué hacer con ellas.

Jacob Iglesias 

 

 

Levarás anos ainda a encontrá-las.
Tantos, que quando as tiveres,
caso isso chegue a acontecer,
não saberás o que fazer com elas.


(Trad. A.M.)

.

11.5.25

Ida Vitale (Residua)




RESIDUA



Corta la vida o larga, todo
lo que vivimos se reduce
a un gris residuo en la memoria.

De los antiguos viajes quedan
las enigmáticas monedas
que pretenden valores falsos.

De la memoria sólo sube
un vago polvo y un perfume.
¿Acaso sea la poesía?


Ida Vitale

[La ceniza]

 

Curta ou longa a vida, tudo
o que vivemos se reduz
a uma cinza na memória.

De antigas viagens ficam
moedas enigmáticas
fingindo valores falsos.

Da memória sobe apenas
uma vaga poeira, um perfume.
Será acaso a poesia?


(Trad. A.M.)


9.5.25

Tanussi Cardoso (Autorretrato)




 AUTORRETRATO

 

O tigre, em silêncio, 
é o que penso. 

Quando ataca, 
é o que posso.

Tanussi Cardoso

.

7.5.25

Javier Olalde (Penso, logo existe)




(1.7)

Pienso, luego existe la tarde
y el mar con ella,
y tu presencia al borde de la tarde y del agua 
llegando de algún sitio, 
sin que existan la tarde ni el mar 
ni tu presencia al borde de la tarde 
llegando mientras pienso.

Javier Olalde

 


Penso, logo existe a tarde
e o mar com ela
e a tua presença à beira da tarde
e da água vinda de algum lado,
sem existirem a tarde ou o mar
nem a tua presença à beira da tarde
vinda enquanto eu penso.


(Trad. A.M.)

.

6.5.25

Jesús Jiménez Domínguez (Aniversário)




CUMPLEAÑOS

 

Lo mismo que un sonido no se conduce
con idéntica velocidad en el agua y en el aire,
está probado que los años no discurren
de igual modo en el corazón y en la cabeza.
¿Alguna vez tu cabeza pensó que tenías cuarenta
mientras tu corazón sentía varios menos?
Por mucho que sumen y repasen sus cuentas
acaban siempre discutiendo sin ponerse de acuerdo.
Lo dijo Émile Chartier de otra forma:
El tiempo es corto para el que piensa,
e interminable para el que desea.

Corazón y cabeza, extraños vecinos que se encuentran
y se saludan recelosos: ciego uno, sordo el otro.
Enemigos íntimos que, invariablemente,
sigo invitando en mis días de cumpleaños.
Sólo un instante coinciden en la escalera:
mientras el primero sube de comprar las velas,
el segundo baja con la digestión ya hecha.


Jesús Jiménez Domínguez



Tal como o som não se transmite
com igual velocidade no ar e na água,
assim os anos não correm de igual modo
na cabeça e no coração.
Algum dia tua cabeça pensou que tinhas quarenta anos,
ao passo que o coração sentia uns tantos a menos?
Ambos acabam sempre a discutir e não chegam a acordo,
por mais que somem e revejam as contas.
Disse-o Émile Chartier de outro modo:
O tempo é curto para quem pensa
e interminável para quem deseja
.

Coração e cabeça, estranhos vizinhos que se cruzam
e saudam receosos, um cego, outro surdo.
Inimigos íntimos que continuo, invariavelmente,
a convidar no dia dos meus anos.
Por instantes coincidem na escada,
o primeiro subindo depois de comprar as velas,
o segundo a descer já feita a digestão.


(Trad. A.M.)


>>  Poesi.as (35p) / Zenda (7p) / Disgrafie (5p) / JJD (blogue/2009-19) / Wikipedia

.


4.5.25

Sebastião da Gama (Pequeno poema)




PEQUENO POEMA

 

Quando eu nasci, 
ficou tudo como estava,
Nem homens cortaram veias,
nem o Sol escureceu,
nem houve Estrelas a mais...
Somente,
esquecida das dores,
a minha Mãe sorriu e agradeceu.

Quando eu nasci,
não houve nada de novo
senão eu.

As nuvens não se espantaram,
não enlouqueceu ninguém...

P'ra que o dia fosse enorme,
bastava
toda a ternura que olhava
nos olhos de minha Mãe...

Sebastião da Gama

 .