4.9.24

Ángel Campos Pámpano (Siquer este refúgio-VII)




SIQUIERA ESTE REFUGIO (VII) (*)
               


Concededme siquiera este refugio, este lugar al sol donde escribir sin culpa, libremente, donde cada palabra sea un acto de amor que se hace piedra, flor del sueño, sed de nubes. Siquiera este refugio, esta orilla secreta, donde todo es más fácil.

Ángel Campos Pámpano

 

 

Concedei-me sequer este refúgio, lugar onde possa escrever sem culpa, livremente, onde cada palavra seja um acto de amor que se faz pedra, flor do sonho, sede de nuvens. Sequer este refúgio, secreta margem, onde tudo é mais fácil.


(Trad. A.M.)

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Canção X (Luís de Camões)

Vinde cá, meu tão certo secretário
Dos queixumes que sempre ando fazendo,
Papel, com que a pena desafogo!
As sem-razões digamos que, vivendo,
Me faz o inexorável e contrário
Destino, surdo a lágrimas e a rogo.
Deitemos água pouca em muito fogo;
Acenda-se com gritos um tormento
Que a todas as memórias seja estranho.
Digamos mal tamanho
A Deus, ao Mundo, à gente e, enfim, ao vento,
A quem já muitas vezes o contei,
Tanto debalde como o conto agora;
Mas, já que pera errores fui nascido,
Vir este a ser um deles não duvido.
Que pois já de acertar estou tão fora,
Não me culpem também se nisto errei.
Sequer este refúgio só terei:
Falar e errar, sem culpa, livremente.
Triste quem de tão pouco está contente!

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