O CÃO
Adormecido, enroscado em frente ao fogo,
Noto como o cão estremece
De instante a instante. Provavelmente
Sonha, a reconhecer no imutável
Uma paridade subconsciente com o mundo
Ou o discurso que só ele entende
No seu sono pacífico. De vez em quando,
Solta um ténue ganido, suspira fundo
E volta ao ciclo de estremeções
Que iniciou assim que adormeceu.
Sonha a sono solto e, não tarda,
Creio que se vai transformar em lírio,
De repente. E assim me lembro de ti,
Uma dália a vibrar em frente ao lume.
Amadeu Baptista