10.10.23

José Antonio Martínez Muñoz (Atque amemus)



ATQUE AMEMUS

 

atque amemus, amada, ahora
justo cuando el mundo se precipita
a la barbarie, aunque no vistas de azul
(ellos sí llevan trajes oscuros)
ni llueva sobre París, que quizá no sea nuestro,
aunque las arenas de Libia ya contengan
sólo el polvo dormido el eco olvidado
de tantas medulas que han gloriosamente ardido

todo eso ya da igual, mas hay plata viva
en el lago de tu mirada
peces que se aman en su honda freza
eres violetas que el viento acaricia
y te pido sólo tu más largo beso
no miles ni millones ni colmatar la Cirenaica

los años de vigor y entusiasmo se han ido
rezumando de una vasija mal sellada
y quizá la arena espera a las viejas banderas
los libros amados las manchas de viva pintura
que nos arrancaban lágrimas de amor
y al mundo y a nuestras respuestas escasas

atque amemus, amada, dame un beso
quiero tus brazos y tus labios
ahora que ya creo oír atenuado
el torpe sollozo del mundo
amemus, seamos otra vez dignos y bellos
cuando irrumpan los bárbaros a caballo
vivamos otro poco, amada,
atque amemus, mientras el mundo se va al carajo

 

José Antonio Martínez Muñoz

[Positano news]

 

 

atque amemus, amada, agora
mesmo que o mundo se precipita
na barbárie, embora não vistas de azul
(eles sim usam fato escuro)
nem chova em Paris, que talvez não seja nosso,
embora as areias da Líbia já tenham só
o pó adormecido o eco esquecido
de tantas medulas que arderam em glória

tudo isso vale o mesmo, mas há prata viva no lago de teu olhar
peixes a amar-se na desova profunda
és violetas que o vento afaga
e eu peço-te só o beijo mais longo
não mil nem milhões nem encher a Cirenaica

anos de vigor e entusiasmo foram-se
ressumando duma vasilha mal selada
e se calhar a areia espera as velhas bandeiras
os livros amados as manchas de pintura
que nos arrancavam lágrimas de amor,
como espera o mundo e as nossas respostas

atque amemus, amada, dá-me um beijo
quero os teus braços e os lábios
agora que creio já ouvir em surdina
o torpe soluço do mundo
amemus, sejamos de novo dignos e belos
quando a cavalo irromperem os bárbaros
vivamos mais um pouco, amada,
atque amemus, enquanto o mundo se despenha


(Trad. A.M.)

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