14.10.23

José Cereijo (Praga)




MALDICIÓN 

 

Que alguna enfermedad implacable y secreta
te devore por dentro, lentamente.
Que no haya en ningún sitio agua para tu sed,
sueño para tus ojos extraviados,
tiempo para tu corazón.
Que la vida, continuamente hostil,
te ofrezca sólo espinas, peligros, negaciones.
Que todo lo que lleves a los labios
se llene de un sabor amargo y póstumo.
Que seas, en fin, lo mismo que yo soy,
lo mismo que seré
mientras que no consiga
                             librarme de tu ausencia.

 José Cereijo

  

Que uma doença secreta e implacável
te devore por dentro, lentamente.
Que não haja em nenhum lado água para a tua sede,
nem sono para os teus olhos,
tempo para o coração.
Que a vida, sempre malina,
te dê apenas espinhos, perigos e negações.
Que tudo que leves aos lábios
tenha um sabor amargo e póstumo.
Que sejas enfim o mesmo que eu sou,
o mesmo que hei-de ser
enquanto não me livrar
                              da tua ausência.


(Trad. A.M.)

.