4.11.21

Antonio Orihuela (O traje novo do imperador)




EL TRAJE NUEVO DEL EMPERADOR

 

Tengo 31 años y estoy cansado.
Todos los sitios me van pareciendo, finalmente,
igual de malos.
Todas las personas, incluso las que me quieren,
insoportables.
No encuentro sentido ni a lo que hago
ni a las cosas que dejo por hacer.
Miro a los demás
con la absoluta certeza de quien ve
no semejantes,
serenos, resignados, envilecidos extraterrestres.
Vuelvo sobre mí
y me siento como si no hubiera otros con los que compartir.
A donde quiera que miro,
la insoportable mentira que anida, germina, rezuma
este tiempo, este país, este modo de vivir
al que llaman
progresista, tolerante, solidario, democrático,
avanzado, europeo, y mejor y mejor
que todos los habidos,
que todos los posibles.
Este modo de vivir
donde falta todo lo nombrado.
Que ha deshecho la clase trabajadora sin una sola bala,
que ha encarcelado las conciencias sin una sola reja,
que me aparta sin una sola porra,
que me excluye sin un hierro candente,
sin siquiera una estrella amarilla en la solapa.
Este tiempo
de trajes nuevos,
de Emperadores.

 
Antonio Orihuela

 

Tenho 31 anos e estou cansado.
Todos os lugares me vão parecendo, por fim,
igualmente maus.
Todas as pessoas, mesmo as que me amam,
insuportáveis.
Não vejo um sentido no que faço
nem no que deixo de fazer.
Olho para os outros
com a absoluta certeza de quem vê
não semelhantes,
serenos, resignados, envilecidos extraterrestres.
Olho para mim
e sinto-me como se não tivesse outros com quem partilhar.
Para onde quer que olhe,
a insuportável mentira que faz ninho, germina, destila
este tempo, este país, este modo de viver
a que chamam
progressista, tolerante, solidário, democrático,
avançado, europeu, e melhor e melhor
que todos os havidos,
que todos os possíveis.
Este modo de viver
onde falta tudo o indicado.
Que desfez a classe trabalhadora sem uma só bala,
que encarcerou as consciências sem uma só grade,
que me afasta sem um só bastão,
que me exclui sem um ferro candente,
sem sequer uma estrela amarela na lapela.
Este tempo
de fatos novos,
de Imperadores.

 
(Trad. A.M,)


 > Outra versão: Canal de poesia (J.M.Magalhães)

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