3.10.20

Homero Aridjis (Recordo-te a correr pela rua)






Te recuerdo corriendo por la calle,
envuelta en un impermeable percudido,
yo vestido de verde y de día viernes,
tapándote la cabeza con un periódico
para que no nos viera tu padre.
Era noviembre y lloviznaba,
tu pelo empapado sobre el impermeable
era una mariposa que volaba.
De tu bolso abierto caían monedas
que recogía un mendigo.
Andábamos de luna de miel de calle en calle.,
sin ceremonia civil ni religiosa,
casados por el santo sacramento del amor.

Nuestros pasos pesaban en el piso,
y los zapatos ahogados en el agua
hacían ansiosa nuestra fuga.
Mojados nos metimos en el metro,
a empujones abordamos un vagón,
y las puertas sobre tu espalda
plegaron como dos alas tu impermeable.
Mirándonos nos fuimos en el tren,
que nos llevó en su propio mundo,
lejos del día y lejos de la noche.
Yo besé tus labios con sabor a lluvia.

Homero Aridjis




Recordo-te a correr pela rua,
com um impermeável coçado,
eu vestido de verde, uma sexta-feira,
a tapar-te a cabeça com um jornal
para o teu pai não nos ver.
Era Novembro e chuviscava,
o teu cabelo alagado no impermeável
era uma borboleta a voar.
De um bolso aberto caíam-te moedas
que os mendigos apanhavam.
Andávamos de rua em rua em lua de mel,
sem cerimónia civil nem religiosa,
casados pelo santo sacramento do amor.

Nossos passos pesavam sobre o chão
e os sapatos enchumbados em água
tornavam a nossa fuga ansiosa.
Metemo-nos molhados no metro,
entrámos aos empurrões na carruagem,
e a porta nas tuas costas
dobrou-te o impermeável como duas asas.
Fomo-nos a olhar-nos no comboio,
que nos levou em seu próprio mundo,
longe do dia e da noite.
E eu beijei-te nos lábios com sabor a chuva.

(Trad. A.M.)

.