QUANDO NADA ME DÓI
Quando nada me dói — o que me dói?
Dói-me um doer mais fundo do que a dor.
Um doer envolto em cortinados roxos.
Um doer que devassa as entranhas
como uma faca ao rubro.
Um doer que arremessa sarcasmos e ironias
e me abandona depois, cheio de sede,
na primeira valeta, à mercê dos ratos,
que me rilhem os ossos.
A.M.PIRES CABRAL
Frentes de Fogo
(2019)
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