CASI UN CUENTO
Él susurró que lo mejor sería
no enamorarse,
ella no le llevó la contraria,
para qué si se sabía vencida.
Ante todo se dejó acariciar
por sus manos manchadas de ternura.
Eso sí,
no se enamoró de sus manos.
Más tarde no impidió que sus labios
muy lentos la abrasaran,
pero tuvo cuidado,
no se enamoró de sus labios,
y aunque tampoco se opuso a que su lengua
la hiriera sin remedio,
no se enamoró de su lengua
ni de sus ojos ni de su voz
ni de la palidez que le subía a la cara
entre los besos,
esa palidez que a ella más y más la arañaba.
Pero tuvo cuidado y no se enamoró.
Para qué si se sabía vencida.
Una y otra vez volvieron a encontrarse.
Sin amor.
Eso sí,
felices como niños.
Ángeles Mora
[Trianarts]
Ele sussurrou-lhe que o melhor seria
não se apaixonarem,
ela não discutiu,
para quê, se se sabia vencida.
Antes de mais, deixou-se acariciar
pelas mãos dele manchadas de ternura.
Isso sim,
não se apaixonou pelas mãos.
Depois não impediu que seus lábios
muito lentos a queimassem,
mas teve cuidado,
não se enamorou dos lábios,
e mesmo que tão pouco se opusesse
a que sua língua a ferisse sem remédio,
não se enamorou da língua,
nem de seus olhos, nem da voz,
nem da palidez que à cara lhe subia
entre os beijos,
essa palidez que a ela mais e mais a arranhava.
Mas teve cuidado e não se apaixonou,
para quê, se se sabia vencida.
Uma e mais vezes se encontraram.
Sem amor.
Isso sim,
felizes como crianças.
(Trad. A.M.)
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