Sentado na Place de la Sorbonne, sentado e em perfil de pássaro, é como ainda hoje o vejo.
Nada a mais naquele vulto esgarçado; nem frases de circunstância nem sorrisos; menos ainda o gesto nulo, a redundância, porque tudo nele, paisagem, frase, alimento, tinha um valor substantivo.
Lembrava um tronco só lenho, fincado na terra árida.
Por terra árida entenda-se o lado difícil da natureza, o partido urgente - doenças e expatriações.
A solidão.
O sentido vigilante do convívio, principalmente isso: poucas pessoas conheci até agora que tivessem sofrido com semelhante orgulho e com tamanho silêncio de si próprias, e poucas, raríssimas, capazes de tantas fidelidades debaixo da frase seca e da aparência alheada.
JOSÉ CARDOSO PIRES
E agora, José?/ Um homem de perfil
(1977)
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