Com empenho e com algum temor, foi justamente isso que pretendeu o escritor-furão: dissertar, recuperando.
Investigar as desfigurações constantes de que cada facto aparece carregado e que, uma vez denunciadas, vão provocar novas desfigurações no conjunto dos elementos relacionados com ele.
Desfigurar para configurar: ao cabo e ao resto é esta dialéctica de repulsa e de integração que mantém o microcosmos da Gafeira naquele equilíbrio em suspenso.
(Corrijo: em vez de 'desfigurações' escrevo 'polivalências aberrantes', supondo que fique mais claro. Polivalências adquiridas pelas personagens e pelos acontecimentos quando pressionados pelos mecanismos da memória, pela mitificação ou pela censura; quando ausentados, em suma, de coordenadas universais).
JOSÉ CARDOSO PIRES
E agora, José?/ Memória descritiva
(1977)
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