18.11.12

Fernando Namora (O Verão terminava)





O Verão terminava quase abruptamente.

Logo que a cidade, saída do letargo estival, se sacudia para cumprir o ciclo agitado das suas metamorfoses, as tardes tornavam-se breves e suaves, fundindo-se na neblina que, rasando o rio, anunciava a mudança de estação.

A vida ia começar.

E os dias velados traziam o sabor de coisas interrompidas pela lânguida e deserta flacidez do Verão.

A cidade ligara o seu destino a essa periódica revoada da juventude coincidindo com o Outono, e era pois no Outono que de todos os lugares desaguavam rios de febre, milhares de rapazes que vinham procurar os liceus e a Universidade e que, quando partiam de novo, aves de arribação, a deixavam uma vez mais suspensa e acabrunhada.



- FERNANDO NAMORA, Fogo na Noite Escura, 1.ª-XII.



(Fernando Namora-Fogo na noite escura-1943)


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