29.11.12
Raymond Carver (O teu cão morre)
YOUR DOG DIES
It gets run over by a van.
you find it at the side of the road
and bury it.
you feel bad about it.
you feel bad personally,
but you feel bad for your daughter
because it was her pet,
and she loved it so.
she used to croon to it
and let it sleep in her bed.
you write a poem about it.
you call it a poem for your daughter,
about the dog getting run over by a van
and how you looked after it,
took it out into the woods
and buried it deep, deep,
and that poem turns out so good
you’re almost glad the little dog
was run over, or else you’d never
have written that good poem.
then you sit down to write
a poem about writing a poem
about the death of that dog,
but while you’re writing you
hear a woman scream
your name, your first name,
both syllables,
and your heart stops.
after a minute, you continue writing.
she screams again.
you wonder how long this can go on.
Raymond Carver
Foi atropelado por uma carrinha,
encontraste-o na berma
e enterraste-o.
sentes-te mal,
quer por ti mesmo,
quer pela tua filha,
que o tinha por mascote
e gostava tanto dele,
até lhe arrulava baixinho
e deixava-o dormir na cama dela.
fazes um poema sobre o caso,
que designas poema para a filha,
sobre o atropelamento do cão
e como o cuidaste,
como o levaste para o bosque
e o enterraste fundo, fundo,
e esse poema fica tão bom
que tu quase ficas contente
por o cão ser atropelado, porque senão
nunca escreverias esse poema.
então sentas-te e pões-te a escrever
um poema sobre a escrita de um poema
sobre a morte do cão,
mas enquanto escreves
ouves gritos de mulher que te chamam
pelo nome, pelo nome próprio,
as duas sílabas,
e pára-te o coração.
depois, continuas,
ela grita de novo
e tu perguntas-te até onde irá a coisa.
(Trad. A.M.)
> Outra versão: Do trapézio (L.P.)
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