30.11.11

Jaime Gil de Biedma (Não voltarei a ser jovem)






NO VOLVERÉ A SER JOVEN




Que la vida iba en serio
uno lo empieza a comprender más tarde
- como todos los jóvenes, yo vine
a llevarme la vida por delante.


Dejar huella quería
y marcharme entre aplausos
- envejecer, morir, eran tan sólo
las dimensiones del teatro.


Pero ha pasado el tiempo
y la verdad desagradable asoma:
envejecer, morir,
es el único argumento de la obra.


Jaime Gil de Biedma






Que a vida passa realmente
começa-se a vê-lo mais tarde
- eu vim, como todos os jovens,
empurrar a vida para a frente.


Deixar marca queria eu
e retirar-me por entre aplausos
- envelhecer, morrer, eram apenas
as dimensões do teatro.


Mas o tempo passou
e então vem a amarga verdade:
envelhecer, morrer,
são o único tema da obra.


(Trad. A.M.)



> Outras versões: Meia-noite (m.a.domingos) / Antonio Cicero (José Bento)


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29.11.11

Ver (80)






Indonésia>Cambodja>Vietname


[S. T.]


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Gsús Bonilla (A vontade de outrem)






LA VOLUNTAD DE OTRO




no entendimos el gesto.
había que comer de la palma
de su mano.

cuidando siempre
primero
de utilizar labios y lengua
evitando así
el arañazo de los dientes.

pero la mansedumbre de los asnos
es terca, como tercos son los asnos;
y de ahí que el animal
aprenda
a base de palos.

el abuelo tenía un burro
con las orejas de trapo,

el extremo de una hebilla,

un cuchillo de corcha,

una sordera tremenda,
una cruz de medalla,

una guerra en áfrica
y un sombrero de paja

y también
la mala costumbre
de enseñar
a sus nietos
que la obediencia
era
cumplir los deseos de amo.

le perdimos el respeto
una vez frente al escaparate
de la tienda de dulces

y estuvimos salivando
una infancia entera.


Gsús Bonilla´


[Apología de la luz]






não entendemos o gesto.
havia que comer-lhe da palma
da mão.

cuidando sempre
primeiro
de usar os lábios e a língua
evitando assim
o arranhar dos dentes.

mas a mansidão dos asnos é teimosa
como teimosos são os asnos;
e daí que o animal
aprenda
à base de pau.

o avô tinha um burro
com orelhas de trapo,

uma ponta duma fivela,

uma faca de cortiça,

uma tremenda surdez,
uma cruz de medalha,

uma guerra em áfrica
e um chapéu de palha

e o mau costume
também
de ensinar
aos netos
que a obediência
era
cumprir os desejos do amo.

perdemos-lhe o respeito
uma vez frente à montra
da pastelaria

e ficámos a salivar
a infância toda.



(Trad. A.M.)

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28.11.11

Rosa Alice Branco (Manual de jardinagem)







MANUAL DE JARDINAGEM





É preciso mudar a terra do poema,
talvez arranjar um vaso maior
e deitar estrume em cada vaso.
Ainda ontem removi a terra
e vi no peso das palavras como escondem
o segredo da leveza.
É melhor esperarmos pela primavera
por todos os meses que faltam
para hoje. Até lá
regarei o vaso como de costume.
Tenho exactamente o tempo de uma pausa
atravessa o poema com o teu passo ágil
e senta-te comigo.
Que palavras nos fizeram falar? O que buscamos
no silêncio? Qual a melhor hora
para regar a água?
Caminhemos um pouco. No fundo do vaso
a razão declina no corpo do poema.
Havemos de a retirar com a pá que floresce na primavera
depois atravessamos verso a verso
à superfície
sem vaso que contenha a humildade da terra.




Rosa Alice Branco



[Luz & sombra]

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27.11.11

Eloy Sánchez Rosillo (Lembra-te)






ACUÉRDATE




Cuando el azar o la costumbre, dentro de muchos años,
de nuevo aqui te traigan, se vives,y la vida
sea para titan sólo recuerdo desvaído
de los antiguos días, acuérdate de que hubo un tiempo
en que las cosas, milagrosamente, fueron de otra manera:
acuérdate de que hoy este jardín
te ha ofrecido su paz, de los rosales
florecidos, del sol que te acompaña
y que te ayuda con su luz tan tibia
a ser dichoso y a saberte joven.



ELOY SANCHÉZ ROSILLO
Páginas de um diario
Barcelona (1981)






Quando o acaso ou o costume, daqui a muitos anos,
te trouxerem de novo a este lugar, se fores vivo, e a vida
for para ti apenas recordação esvaída
de antigos dias, lembra-te de que houve tempo
em que as coisas, milagrosamente, foram de outro modo:
lembra-te que este jardim hoje
te ofereceu a sua paz, as roseiras
em flor, o sol que te acompanha
e que te ajuda com sua luz frouxa
a ser ditoso e a saber-te jovem.



(Trad. A.M.)



> Outra versão: O melhor amigo (José Bento)

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26.11.11

Aquilino Ribeiro (Ainda não nascera o dia)






Ainda não nascera o sol, mas já as gralhas cirandavam na orla dos giestais e a carriça se via pincharolando de parede para parede, furar pelos buraquinhos, lesta e farfalhuda.

Começava a erguer a poalha de lírios roxos que a noite deixava à terra, ao largar.

Corria a luz pelos caminhos e o açude do Cláudio, para lá da folha daquele ano, voltava para o céu a inflorescer o lume baço dos velhos espelhos de igreja.

Para trás do povo, descobria-se um bom trato do monte com coutos lambidos da canícula, barrocas de grande vão e pinhais solitários no jeito descabelado de avançar, subindo e descendo os cerros, uns para os outros em arremetida de guerra.

Mais longe interpunha-se a névoa, incerta em poisar, oscilando das abas altas da Póvoa aos penedais torvos de Aris.

Mas era para banda de sul – quintais, seara e rio – que o luaceiro da manhã esplendia.

A campina desnudava-se, e toda a tristeza outonal parecia escorrer da serra da Estrela, lá atrás muito taciturna e dolente como se rezasse ao céu.



- AQUILINO RIBEIRO, Terras do Demo, 2.ª parte, VII.

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Joan Brossa (O tempo)






EL TIEMPO




Este verso es el presente.
El verso que habéis leído es ya el pasado
-ha quedado atrás después de la lectura.
El resto del poema es el futuro,
que existe fuera de vuestra
percepción.
Las palabras
están aquí, tanto si las leéis
como si no. Y ningún poder terrestre
lo puede modificar.



Joan Brossa


(versão Carlos Vitale)





Este verso é o presente.
O verso que lestes é já o passado
- ficou lá trás depois da leitura.
O resto do poema é o futuro,
que existe fora da vossa
percepção.
As palavras
estão aqui, tanto se as ledes
como se não. E nenhum poder na terra
o pode modificar.


(Trad. A.M.)



>>  Joan Brossa (sítio of. / anto+bio+biblio) / Escriptors (anto+bio+biblio+críticas+entrevistas+linques) / A media voz (29p)

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25.11.11

Nuno Júdice (O silêncio)






O SILÊNCIO




Pego num pedaço de silêncio. Parto-o ao meio,
e vejo saírem de dentro dele as palavras que
ficaram por dizer. Umas, meto-as num frasco
com o álcool da memória, para que se
transformem num licor de remorso; outras,
guardo-as na cabeça para as dizer, um dia,
a quem me perguntar o que significam.
Mas o silêncio de onde as palavras saíram
volta a espalhar-se sobre elas. Bebo o licor
do remorso; e tiro da cabeça as outras palavras
que lá ficaram, até o ruído desaparecer, e só
o silêncio ficar, inteiro, sem nada por dentro.



NUNO JÚDICE
A matéria do poema
(2008)


[O poema que hoje partilharia]

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24.11.11

Chantal Maillard (Não existe o infinito)






No existe el infinito:
el infinito es la sorpresa de los límites.
Alguien constata su impotencia
y luego la prolonga más allá de la imagen, en la idea,
y nace el infinito.
El infinito es el dolor
de la razón que asalta nuestro cuerpo.
No existe el infinito, pero sí el instante:
abierto, atemporal, intenso, dilatado, sólido;
en él un gesto se hace eterno.
Un gesto es un trayecto y una encrucijada,
un estuario, un delta de cuerpos que confluyen,
más que trayecto un punto, un estallido,
un gesto no es inicio ni término de nada,
no hay voluntad en el gesto, sino impacto;
un gesto no se hace: acontece.
Y cuando algo acontece no hay escapatoria:
toda mirada tiene lugar en el destello,
toda voz es un signo, toda palabra forma
parte del mismo texto.


Chantal Maillard


[Apología de la luz]





Não existe o infinito,
o infinito é a surpresa dos limites.
Alguém constata a sua impotência
e depois prolonga-a além da imagem, na ideia,
e nasce o infinito.
O infinito é a dor
da razão que assalta nosso corpo.
Não existe o infinito, mas apenas o instante,
aberto, atemporal, intenso, dilatado, sólido;
um gesto nele torna-se eterno.
Um gesto é um trajecto e uma encruzilhada,
um estuário, um delta de corpos confluindo,
mais que trajecto um ponto, um estalido,
um gesto não é início nem termo de nada,
não há vontade no gesto, apenas impacto;
um gesto não se faz, acontece.
E quando algo acontece não há escapatória,
todo o olhar cabe no clarão,
toda a voz é um signo, toda a palavra faz
parte do mesmo texto.



(Trad. A.M.)


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23.11.11

Ver (79)







Tarragona>Soria>Zamora


[Luis López]


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Antonio Machado (Quatro coisas tem o homem)






Cuatro cosas tiene el hombre
que no sirven en la mar:
ancla, gobernalle y remos,
y miedo de naufragar.



Antonio Machado






Quatro coisas tem o homem
que não lhe servem no mar:
âncora, timão e remos
e medo de naufragar.



(Trad. A.M.)

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22.11.11

Carlos Mota de Oliveira (O frio)






O FRIO




O frio
na Igrejinha
quer lá saber!

E ameaça:
Não há
casa

onde
não entre!

Eu nada
digo

e adormeço
com nove

medronhos
e a pistola
na mão.


Carlos Mota de Oliveira



[Livros Fenda]

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21.11.11

Angel González (Vista cansada)






VISTA CANSADA



No achaques a tu edad
este desinterés, la indiferencia
-casi desdén-
con que hoy miras la vida.
No culpes a tus ojos fatigados.

La fatiga
no está en los ojos que miran,
está en todo lo que ven.


Ángel González



[Escomberoides]






Não acuses a idade
do desinteresse, da indiferença
– quase desdém –
com que hoje olhas a vida.
Não culpes teus olhos fatigados.

A fadiga
não está nos olhos que observam,
está naquilo que vêem.


(Trad. A.M.)

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20.11.11

Fialho de Almeida (Vozes)






Na agitação das populaças que respiram alto, pela noite, entre as flambagens do gás, nos gemidos que os arvoredos soltam, azorragados do nordeste, ou quando a vaga regouga, espadanando contra os granitos da riba, a mesma evocação misteriosa, confusa, mal sonhada, nos surpreende, de vozes que já antes tínhamos ouvido, e agora parecem despertar dentro de nós saudades de idílios extintos e de felicidades mortas em plena adolescência.


- FIALHO DE ALMEIDA, O País das Uvas (Pelos campos > Sinfonia da Primavera).

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Ana Pérez Cañamares (Ao deus do imperfeito)






Al dios de todo lo imperfecto yo le pido
que a las gotas de sabiduría que transporto
a duras penas en el cuenco de las manos
no las seque el sol inclemente
del cinismo.



Ana Pérez Cañamares






Ao deus do imperfeito eu peço
que as gotas de sabedoria que levo
a duras penas na concha das mãos
não as seque o sol inclemente
do cinismo.


(Trad. A.M.)

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19.11.11

José Carlos Barros (Nos países democráticos)






nos países democráticos
a cultura levou a
que o futebol e as telenovelas substituíssem as guerras



os danos
hoje
são irrisórios
a propagação da estupidez quase não tem efeitos
colaterais




José Carlos Barros




[O melhor amigo]


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18.11.11

Gioconda Belli (Abandonados)






ABANDONADOS





Tocamos la noche con las manos
escurriéndonos la oscuridad entre los dedos,
sobándola como la piel de una oveja negra.


Nos hemos abandonado al desamor,
al desgano de vivir colectando horas en el vacío,
en los días que se dejan pasar y se vuelven a repetir,
intrascendentes,
sin huellas, ni sol, ni explosiones radiantes de claridad.


Nos hemos abandonado dolorosamente a la soledad,
sintiendo la necesidad del amor por debajo de las uñas,
el hueco de un sacabocados en el pecho,
el recuerdo y el ruido como dentro de un caracol
que ha vivido ya demasiado en una pecera de ciudad
y apenas si lleva el eco del mar en su laberinto de concha.


¿Cómo volver a recapturar el tiempo?


¿Interponerle el cuerpo fuerte del deseo y la angustia,
hacerlo retroceder acobardado
por nuestra inquebrantable decisión?


Pero... quién sabe si podremos recapturar el momento
que perdimos.


Nadie puede predecir el pasado
cuando ya quizás no somos los mismos,
cuando ya quizás hemos olvidado
el nombre de la calle
donde
alguna vez
pudimos
encontrarnos.



Gioconda Belli






Tocamos a noite com as mãos
escorrendo-nos a escuridão entre os dedos,
surrando-a como a pele duma ovellha negra.


Abandonamo-nos ao desamor,
ao fastio de viver colhendo horas do vazio,
nos dias que se deixam passar e voltam a repetir-se,
desimportantes,
sem marcas, nem sol, nem explosões radiantes de claridade.


Abandonamo-nos dolorosamente à solidão,
sentindo a necessidade do amor por baixo das unhas,
o vazio de um sacador dentro do peito,
a lembrança e o ruído como dentro de um caracol
que viveu já demais num aquário urbano
e mal deixa ouvir o eco do mar
no seu labirinto de concha.


Como voltar a prender o tempo?


Interpor-lhe o corpo sólido do desejo e da angústia,
fazê-lo recuar acobardado
pela nossa inquebrantável decisão?


Mas... quem sabe se poderemos prender o momento
que perdemos.


Ninguém pode predizer o passado
quando já não somos talvez os mesmos,
quando esquecemos já talvez
o nome da rua
onde
algum dia
pudemos
encontrar-nos.


(Trad. A.M.)

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17.11.11

Um verso (102)






Um verso de Casimiro de Brito
(um pássaro na mão):





O amor é um pássaro cego que nunca se perde no seu voo





Casimiro de Brito

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Javier Sicilia (Dor)






DOLOR-III




No recuerdo a qué vine,
el sol quema y no hay sombra,
como si el tiempo, lejos de casa, se hubiera detenido
y no hubiese camino de regreso.
Hay una larga calle que sube serpenteando hacia otra calle
y los ojos no brillan.
Me dijeron que aquel que estaba vivo ha muerto.
No hay agua aquí ni árboles
ni siquiera un vestigio de su paso,
sino calor y cemento,
cables y edificios
y la calle que sube serpenteando hacia otra calle.
Si hubiera un árbol,
si tan sólo un árbol,
me echaría a su sombra a sentir,
pero hay tanto calor
y los pies se me incendian en los zapatos;
si sólo hubiera un árbol en la calle,
si tan sólo una brisa donde mirar su espalda alejándose, alejándose;
si hubiera un árbol,
si tan sólo una brisa
y no el árido y seco serpentear de la calle que lleva hacia otra calle,
si sólo hubiera un árbol,
un signo sobre el tiempo,
un vestigio de hierba, una brisa;
no el espejismo roto donde miran los ojos el vacío,
sino el simple destello de la hierba en la calle
y la brisa que anunciaba su paso,
pero aquí sólo hay calles
y el destello de los días que han extraviado el tiempo.
Aún no ha oscurecido,
pero dicen que aquel que estaba vivo ha muerto,
y pronto llegará la noche.
He leído tu carta,
me escribes que no has hecho el amor desde hace mucho,
pero que hallas tu vientre henchido y habitado como entonces.
Debería bastarme para sentirme alegre y regresar a casa,
pero perdí el camino
y la calle que sube desemboca a otra calle
y el dolor es tan seco que los pies no responden al asfalto.
No ha oscurecido aún, María,
pero dicen que aquel que estaba vivo ha muerto
y pronto llegará la noche.
No recuerdo a qué vine
ni qué ciudad es ésta entre las calles;
ya no sé a quién esperas en tu vientre vacío;
la calle sube serpenteando
y el viento silba en la iglesia desierta.
No recuerdo a qué vine.
Aún no ha oscurecido,
pero dicen que pronto llegará la noche.


Javier Sicilia



[La canción de la sirena]







Não me lembro a que vim,
o sol escalda e sombra não há,
como se o tempo tivesse parado, longe de casa,
e não houvesse caminho de volta.
Há uma rua comprida a subir aos esses até outra rua
e os olhos não brilham.
Disseram-me que morreu aquele que estava vivo.
Não há aqui água nem árvores
nem sequer um traço da sua passagem,
apenas calor e cimento,
cabos e edifícios
e a rua que sobe serpenteando até à outra rua.
Se houvesse uma árvore,
uma árvore apenas,
deitava-me à sombra a sentir,
mas há tanto calor
e os pés ardem-me dentro dos sapatos;
se houvesse uma árvore na rua,
ou uma brisa apenas para lhe olhar as costas ao longe;
se houvesse uma árvore,
ou apenas uma brisa
e não o seco e árido serpentear da rua que leva a outra rua,
se houvesse uma árvore,
um sinal sobre o tempo,
um vestígio de erva, uma brisa;
não a desfeita miragem onde os olhos contemplam o vazio,
mas o simples cintilar da erva na rua
e a brisa a anunciar-lhe a passagem,
mas aqui há só ruas
e o clarão dos dias que transviaram o tempo.
Ainda não escureceu,
mas dizem que o que vivia morreu,
e depressa chegará a noite.
Li já a tua carta,
dizes que há muito não fazes amor,
mas sentes como então o ventre cheio e habitado.
Devia bastar para me sentir alegre e voltar a casa,
mas perdi o caminho
e a rua que sobe desemboca noutra rua
e é tão seca a dor que os pés não sentem o chão.
Não escureceu, Maria, ainda,
mas dizem que o que vivia morreu
e depressa chegará a noite.
Não me lembro a que vim,
nem que cidade é esta entre as ruas;
nem sei quem tu esperas no teu ventre vazio;
a rua sobe serpenteando
e o vento assobia na igreja deserta.
Não me lembro a que vim.
Ainda não escureceu,
mas dizem que vai já chegar a noite.


(Trad. A.M.)



>>  A media voz (10p) /  Periodico de poesía (entrevista)


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16.11.11

Guerra Junqueiro (O dinheiro de S. Pedro)






O DINHEIRO DE S. PEDRO




De tal modo imitou o Papa a singeleza
Do mártir do Calvário,
Que à força de gastar os bens com a pobreza
Tornou-se milionário.

Tu hoje podes ver, ó filho de Maria,
O teu vigário humilde
Conversando na Bolsa em fundos da Turquia
Com o Barão Rothschild.

A cruz da redenção, que deu ao mundo a vida
Por te haver dado a morte,
Tem-na no seu bureau o padre-santo erguida
Sobre uma caixa-forte.

E toda essa riqueza imensa, acumulada
Por tantos financeiros,
O que é a economia, ó Deus! foi começada
Só com trinta dinheiros!




GUERRA JUNQUEIRO
A Velhice do Padre Eterno
(1885)




[Luz & sombra]

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15.11.11

Amalia Bautista (A vida responsável)






LA VIDA RESPONSABLE




Conducir sin tener un accidente,
comprar desodorante y macarrones
y cortarles las uñas a mis hijas.
Madrugar otra vez, tener cuidado
de no decir inconveniencias, luego
esmerarme en la prosa de unos folios
que me importan exactamente un bledo
y darme colorete en las mejillas.
Recordar la consulta del pediatra,
contestar el correo, tender ropa,
declarar los ingresos, leer libros
y hacer unas llamadas por teléfono.
Me gustaría permitirme el lujo
de tener todo el tiempo que quisiera
para hacer un montón de cosas raras,
cosas innecesarias, prescindibles
y, sobre todo, inútiles y bobas.
Por ejemplo, quererte con locura.


AMALIA BAUTISTA
Cuéntamelo otra vez
(1999)




Conduzir sem ter acidentes,
comprar macarrão e desodorizante
e cortar as unhas às filhas.
Madrugar outra vez, ter cuidado
em não dizer inconveniências, depois
esmerar-me na prosa de algumas laudas
para que me estou nas tintas
e retocar também as faces.
Lembrar a consulta do pediatra,
responder ao correio, estender a roupa,
declarar o rendimento, ler uns livros
e fazer algumas chamadas telefónicas.
Gostava de me dar ao luxo
de ter o tempo todo que quisesse
para fazer um monte de coisas estranhas,
coisas desnecessárias, dispensáveis
e acima de tudo inúteis e bobas.
Por exemplo, amar-te loucamente.


(Trad. A.M.)


>  Outra versão: Canal de poesia (J.M.Magalhães)

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14.11.11

Olhar (105)






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Manuel Moya / Violeta (Tatuagem)






TATUAGEM




Olhas para ele divertida e convidas-te a um copo.
Se a sua história fosse boa,
se tratasse de uns homenzecos sujos,
de drogas ou de hotéis vermelhos como um corno,
de uma morte não explicada
ou de uma vida inexplicável,
a coisa, querido, mudaria.
Mas não. O pacóvio palra e palra de Acapulco,
canta Aznavour com voz de franciscano.
Eu sou, atira-te, gémeos, e tu,
espera querida, espera, tu és touro.

Assim é como o gajo
consegue uma queca lá na tribo dele.

Com isto do amor, digo-lhe por coqueteria,
vai bem o bâton gretado,
os parques remotos, o cigarro sozinha,
as luas amolgadas,
os carros espatifados.

Levanto-me para comprar Gauloises.
Deixo-o com os olhos
afundados no copo
ainda mais turvo que os meus olhos.
Já na rua,
penduro-me de um catalão.
E trauteio esta canção de Piquer:
E ele veio num baaarco…


Violeta C. Rangel



[Lugares mal situados]


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13.11.11

Graça Pires (Qualquer gesto)






QUALQUER GESTO





Era quase a manhã a sangrar nos pulsos.
Qualquer gesto seria inútil para entoar
todos os silêncios que enchem a noite.
Eu podia esperar à beira-mar o amanhecer
ou os amigos a quem a errância dos mastros
rodeia a garganta.
Podia adormecer sob as águas onde se escondem
as quilhas seduzidas pela voragem.
Podia, eu sei, abraçar os navios
ou ser a asa e o voo das aves solitárias.




GRAÇA PIRES
O silêncio: lugar habitado
(2009)



[Ortografia do olhar]

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12.11.11

Jorge Espina (Um animal manso)






UN ANIMAL MANSO




Mediodía.
Bajo el último sol de febrero escucho el primer canto del mirlo,
acostado sobre el césped, con los ojos cerrados
acaricio la tierra como a un animal manso.
Mis dedos juegan con la hierba, siento el ensortijado cabello de un perro,
noto de vez en cuando, que la tierra
me lame la mano.


Jorge Espina





Meio-dia.
Sob o último sol de fevereiro escuto o primeiro canto do melro,
deitado na relva, com os olhos fechados
afago a terra como se fosse um animal manso.
Meus dedos brincam com a erva, sinto o pelo frisado de um cão,
reparo, de vez em quando, que a terra
me lambe a mão.


(Trad. A.M.)



> Outra versão: Apología de la luz (Maria Lúcia M.L.)

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11.11.11

Antonio Cicero (Guardar)






GUARDAR




Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.
Em cofre não se guarda coisa alguma.
Em cofre perde-se a coisa à vista.


Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por
admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.


Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por
ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela,
isto é, estar por ela ou ser por ela.


Por isso melhor se guarda o voo de um pássaro
Do que um pássaro sem voos.


Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica,
por isso se declara e declama um poema:
Para guardá-lo:
Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:
Guarde o que quer que guarda um poema:
Por isso o lance do poema:
Por guardar-se o que se quer guardar.


Antonio Cicero

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Eduardo Errasti (Rendição)






RENDICIÓN



He decidido
dejar de fumar,
suprimir
las pastillas,
no leer
ciertos libros,
mantenerme
en forma,
hacer
más deporte,
colgarme
de las telenovelas,
comprar
un móvil,
conectarme
a Internet,
besarte
con moderación,
acostarme temprano.
En fin,
hacer todo
lo que haría ese
perfecto imbécil
que a ti tanto te gusta
(y que la vida
pase cuanto antes).

Eduardo Errasti


[Nodo 50]




Decidi
deixar de fumar,
suprimir
as pastilhas,
não ler
certos livros,
manter-me
em forma,
fazer
mais desporto,
pendurar-me
das novelas,
comprar
um telemóvel,
ligar-me
à Internet,
beijar-te
com moderação,
e deitar-me cedo.
Enfim,
fazer tudo
o que faria esse
perfeito imbecil
que tu tanto aprecias
(e que a vida
passe quanto antes).


(Trad. A.M.)

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10.11.11

Fernando Pessoa / Álvaro de Campos (Dobrada à moda do Porto)






DOBRADA À MODA DO PORTO





Um dia, num restaurante, fora do espaço e do tempo,
Serviram-me o amor como dobrada fria.
Disse delicadamente ao missionário da cozinha
Que a preferia quente,
Que a dobrada (e era à moda do Porto) nunca se come fria.
Impacientaram-se comigo.
Nunca se pode ter razão, nem num restaurante.
Não comi, não pedi outra coisa, paguei a conta,
E vim passear para toda a rua.
Quem sabe o que isto quer dizer?
Eu não sei, e foi comigo ...
(Sei muito bem que na infância de toda a gente houve um jardim,
Particular ou público, ou do vizinho.
Sei muito bem que brincarmos era o dono dele.
E que a tristeza é de hoje).
Sei isso muitas vezes,
Mas, se eu pedi amor, porque é que me trouxeram
Dobrada à moda do Porto fria?
Não é prato que se possa comer frio,
Mas trouxeram-mo frio.
Não me queixei, mas estava frio,
Nunca se pode comer frio, mas veio frio.



Álvaro de Campos

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9.11.11

Berna Wang (É preciso coragem)






Hace falta valor
para volver después de tantos años.
Y reconocer que las ciruelas claudias que
cogimos aquella madrugada de agosto
mientras los demás dormían
y que guardamos en la nevera,

después de tantos años

ya no tienen la piel brillante
verde y amarilla de entonces,
ni son firmes al tacto
ni dulces al paladar.

Hace falta mucho valor
para regresar y abrir la nevera,
verla invadida por el moho y la podredumbre,
soportar el olor a vinagre y humedad,
tirar a la basura
esas pieles arrugadas, esa carne ya seca,
esos huesos mondos,
y limpiar los cuajarones

después de tantos años.


Berna Wang


[Apología de la luz]







É preciso coragem
para voltar depois de tantos anos.
E reconhecer que as ameixas que
apanhámos enquanto os outros dormiam
nessa madrugada de agosto
e que guardámos no frigo,


depois de tantos anos


não têm já a pele brilhante
amarela e verde de então,
nem são rijas ao tacto
nem doces no paladar.


É preciso muita coragem
para regressar e abrir o frigo,
vê-lo invadido por mofo e podridão,
suportar o cheiro a vinagre e humidade,
atirar ao lixo
essas peles com rugas, essa carne já seca,
esses ossos limpos,
e limpar os coalhos


depois de tantos anos.


(Trad. A.M.)

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8.11.11

Carlos Nejar (Sem raízes)






SEM RAÍZES



Nos deslocamos
do solo. Tudo
em nós pede
pátria.


CARLOS NEJAR
A Idade da Eternidade
- Poesia reunida
IN-CM (2001)


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Vicente Gallego (O sorriso)






LA SONRISA





Es un puente que acerca
geografías humanas. Le fiamos
la burla y la alegría por igual.
Se parece a los ríos, y a la luna,
y a nada se parece. Yo la he visto
brillar como la luna y fluir como un río
recorriendo unos labios de mujer.
Puede ser un regalo, una condena,
cohabitar con el necio y encubrir al traidor.
Mi corazón le debe la memoria
de los seres que he amado y que perdí,
pues el tiempo, que borra en mi recuerdo
el perfil de sus rostros, no empaña sus sonrisas,
y en sus sonrisas vive extrañamente
la clara imagen, fiel,
de todo cuanto fueron para mí.
La sonrisa nos salva y debería
conservarla la tinta,
como una huella dactilar del alma.


Vicente Gallego






Eis uma ponte que acerca
geografias humanas. Fiamos-lhe
igualmente a burla e a alegria.
Assemelha-se aos rios, à lua,
e com nada se parece. Eu o vi
brilhar como a lua, fluir como um rio,
percorrendo uns lábios de mulher.
Pode ser um presente ou uma punição,
coabitar com o néscio, encobrir o traidor.
Meu coração lhe deve a lembrança
dos seres que amei e perdi,
o tempo a apagar-lhes o contorno do rosto,
mas sem lhes turvar o sorriso,
onde vive singularmente
a imagem clara e fiel
de quanto foram para mim.
O sorriso nos salva, devia era
conservar sempre a tinta,
qual impressão digital da alma.


(Trad. A.M.)


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7.11.11

Adolfo Casais Monteiro (O fim da noite)






O FIM DA NOITE




A nossa história é simples: somos
neste momento todo o amor na terra
e nada mais importa, senão
o que sou, verdade em ti,
o que és, verdade em mim.
Por isso este poema talvez não seja
mais que um silêncio pela noite,
nem verso, nem prosa, só
uma oração ao deus desconhecido.


Não é talvez senão o teu olhar,
e tua esquiva mágoa,
o teu riso e tuas lágrimas.
E o apelo dentro de mim
ao milagre de nos querermos,
com a mágoa e com o riso,
- e teu olhar que vê em mim.


Não sei pedir, sei só esperar.
Mas já houve o milagre. Estava
agora comigo ao longo das ruas, que antes
eram só casas de pálpebras cerradas.
Estava no silêncio, que antes
era mortal.


E tu, sem eu saber, estavas comigo.
E sem eu saber de súbito na treva
buliram asas
e sem eu saber era já dia.



Adolfo Casais Monteiro



[Luz & sombra]

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6.11.11

Ulalume González (Palavras)






PALABRAS




Quiero regalarte palabras
bellas palabras
Están usadas pero duran toda la vida
Quiero decirte: para siempre
No hables de falta de perspectiva
Las palabras significan lo que uno quiere



Ulalume González de León





Quero oferecer-te palavras
belas palavras
São usadas mas duram toda a vida
Quero dizer-te: para sempre
Não fales de falta de perspectiva
As palavras significam o que se queira


(Trad. A.M.)

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5.11.11

Ver (78)







[Toscana]


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Rosario Castellanos (O quotidiano)






LO COTIDIANO




Para el amor no hay cielo, amor, sólo este día;
este cabello triste que se cae
cuando te estás peinando ante el espejo.
Esos túneles largos
que se atraviesan con jadeo y asfixia,
las paredes sin ojos,
el hueco que resuena
de alguna voz oculta y sin sentido.


Para el amor no hay tregua, amor. La noche
no se vuelve, de pronto, respirable.
Y cuando un astro rompe sus cadenas
y lo ves zigzaguear, loco, y perderse,
no por ello la ley suelta sus garfios.
El encuentro es a oscuras. En el beso se mezcla
el sabor de las lágrimas.
Y en el abrazo ciñes
el recuerdo de aquella orfandad,
de aquella muerte.



Rosario Castellanos







Para o amor não há céu, amor, só este dia;
este cabelo triste que cai
quando te penteias diante do espelho.
Esses túneis longos
que se correm a arfar,
as paredes sem olhos,
o vazio que ressoa
de alguma voz oculta e sem sentido.


Para o amor não há trégua, amor. A noite
não se torna, de repente, respirável.
E quando um astro quebra as cadeias
e o vês em ziguezague, louco, a perder-se,
nem por isso a lei solta seus dedos.
O encontro é no escuro. No beijo mistura-se
o sabor das lágrimas.
E no abraço apertas
a lembrança dessa orfandade,
dessa morte.


(Trad. A.M.)


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4.11.11

Manuel de Freitas (Stabat mater)






STABAT MATER




Benilde, ao balcão, reza de pé
a novena do Menino Jesus
de Praga. Alguém, que nunca
mais vi, tinha a mesma devoção
– e um mapa de heroína
a servir-lhe de braços.


Custa-me interromper a
novena para pedir, claro,
mais uma cerveja.
Tão diferentes modos de rezar,
debaixo do relógio que há vários anos
nos diz que ainda não são quatro.


Prevêem, na rádio, uma descida
da temperatura. É tudo o que
me importa saber.
Enquanto Benilde, ao balcão,
continua a rezar ao Menino Deus.


Fez-se silêncio. Tem
uma garrafa vazia ao lado.
Acendo um cigarro
em memória de Pergolesi
e escrevo, sem querer,
o primeiro poema do ano.



Manuel de Freitas


[Hospedaria Camões]


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3.11.11

Gioconda Belli (Afugentemos o tempo)






Ahuyentemos el tiempo, amor,
que ya no exista;
esos minutos largos que desfilan pesados
cuando no estás conmigo
y estás en todas partes
sin estar pero estando.
Me dolés en el cuerpo,
me acariciás el pelo
y no estás
y estás cerca,
te siento levantarte
desde el aire llenarme
pero estoy sola, amor,
y este estarte viendo
sin que estés,
me hace sentirme a veces
como una leona herida,
me retuerzo
doy vueltas
te busco
y no estás
y estás
allí
tan cerca.


Gioconda Belli





Afugentemos o tempo, amor,
que já não exista;
esses minutos longos que desfilam pesados
quando não estás comigo
e estás em todo o lado
sem estar mas estando.
Dóis-me no corpo,
afagas-me o cabelo
e não estás
e estás perto,
sinto-te levantar
no ar encher-me,
amor, mas estou só,
e este estar-te vendo,
sem estares,
faz-me sentir por vezes
como uma leoa ferida,
retorço-me,
dou voltas
busco-te
e não estás
e estás ali
tão perto.



(Trad. A.M.)





>>  Gioconda Belli (sítio>tudo+algo) / A media voz (50p) / Sololiteratura (tudo+algo)


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2.11.11

Fialho de Almeida (Eu bem na sinto)






Eu bem na sinto! Eu bem na sinto! apesar das fuligens do céu mal humorado, e da ventania que me apupa, através das frinchas das janelas.

Uma pulsação vigora as alamedas, nas ascendências inexauríveis da seiva, rebentando em folhagens de contextura fina, por forma que já não é ficção o caso do homem que ouvia crescer erva nos campos, visto que eu há quinze dias oiço, no recanto do parque aonde vivo, sob uma umbela vermelha de paisagista, o burburinho da natureza que se revigora e emplumesce, numa dessas orgias de cor que faziam rir o olho azul de Rousseau, e punham emoções na palidez fatigada de Huet, o paisagista da ilha verde de Seguin.


- FIALHO DE ALMEIDA, O País das Uvas (Pelos campos > Sinfonia da Primavera).

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Roberto Juarroz (Um amor para além do amor)






Un amor más allá del amor,
por encima del rito del vínculo,
más allá del juego siniestro
de la soledad y de la compañía.


Un amor que no necesite regreso,
pero tampoco partida.
Un amor no sometido
a los fogonazos de ir y de volver,
de estar despiertos o dormidos,
de llamar o callar.


Un amor para estar juntos
o para no estarlo
pero también para todas
las posiciones intermedias.


Un amor como abrir los ojos.
Y quizá también como cerrarlos.



Roberto Juarroz



[Noctambulario]






Um amor para além do amor,
por cima do rito do vínculo,
para além do jogo sinistro
da solidão e da companhia.


Um amor que dispense regresso,
mas também partida.
Um amor não sujeito
aos fogachos de ir e voltar,
de estar acordado ou dormir,
de chamar ou não falar.


Um amor para estar juntos
ou então para não estar
mas também para todas
as posições intermédias.


Um amor como abrir os olhos.
E também talvez como fechá-los.


(Trad. A.M.)

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1.11.11

Antonio Cicero (Alguns versos)






ALGUNS VERSOS





As letras brancas de alguns versos me espreitam
em pé no fundo azul de uma tela atrás
da qual luz natural adentra a janela
por onde ao levantar quase nada o olhar
vejo o sol aberto amarelar as folhas
da acácia em alvoroço: Marcelo está
para chegar. E de repente, de fora
do presente, pareço apenas lembrar
disso tudo como de algo que não há de
retornar jamais e em lágrimas exulto
de sentir falta justamente da tarde
que me banha e escorre rumo ao mar sem margens
de cujo fundo veio para ser mundo
e se acendeu feito um fósforo, e é tarde.


Antonio Cicero



>>  Antonio Cicero (sítio>12p+ensaio+bio+biblio,etc.) / Antonio Cicero (blogue)

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