(A cabeça de Bazílio)
José Fernandes, como o filho tivesse oito anos bem
espigados, comprou-lhe um ABC, e foi levá-lo á escola.
Era a cabeça de Bazílio, no dizer do mestre, muito mais dura, e tapada, e maior
que a bola de pedra da torre dos Clérigos.
Ao cabo de Irês meses, Bazílio já conhecia um ‘o’ e um ‘i’; mas, se lhe
tirassem o ponto ao ‘i’, chamava-lhe ‘o’.
O mestre seguia o sistema da pancadaria, sistema o mais racional de todos com
cabeças daquele feitio.
Bazílio entrava em casa a chorar, a mãe saía de mantilha a descompor o mestre,
o mestre, exauridas as razões, descompunha a senhora Bonifácia, e assim
andaram, ora melhor ora pior, até que Bazílio aprendeu o abecedário, ás
direitas, ás avessas, e salteado. (I)
CAMILO CASTELO BRANCO
Aventuras de Bazílio Fernandes Enxertado
(1863)