19.2.25

Camilo Castelo Branco (A cabeça de Bazílio)



(A cabeça de Bazílio)

José Fernandes, como o filho tivesse oito anos bem espigados, comprou-lhe um ABC, e foi levá-lo á escola.
Era a cabeça de Bazílio, no dizer do mestre, muito mais dura, e tapada, e maior que a bola de pedra da torre dos Clérigos.
Ao cabo de Irês meses, Bazílio já conhecia um ‘o’ e um ‘i’; mas, se lhe tirassem o ponto ao ‘i’, chamava-lhe ‘o’.
O mestre seguia o sistema da pancadaria, sistema o mais racional de todos com cabeças daquele feitio.
Bazílio entrava em casa a chorar, a mãe saía de mantilha a descompor o mestre, o mestre, exauridas as razões, descompunha a senhora Bonifácia, e assim andaram, ora melhor ora pior, até que Bazílio aprendeu o abecedário, ás direitas, ás avessas, e salteado. (I)


CAMILO CASTELO BRANCO
Aventuras de Bazílio Fernandes Enxertado
(1863)

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