18.1.23

Vicente Luis Mora (Diário de um amor)




DIARIO DE UN AMOR HECHO PEDAZOS

  

Uno de enero:
el amor es no tener 
que decir te quiero

*

Su risa hace
de este salón abierto
cámara de gas

*

Me asfixio inspiro
por el auricular 
si marco el número

*

Abre los ojos
no está diciendo nada
y se le entiende todo

*

Tres de febrero:
me dice que no la mire
aún la estoy viendo

*

Digo futuro
y describo viajes
prorrumpe en silencio

*

Siendo tan chica
cómo pudo inventarse
daño tan grande

*

Gracias al móvil consigo
llevar su silencio
conmigo

*

Más que el te quiero 
que no dije me matan
los que me dijo

*

Junio: mar espejo
olas arrugan la frente
quiero que llegue el invierno

*

Se cumplió mi sueño
perdí
mi sueño

*

Vida: migajas
con una digestión
desesperante


Vicente Luis Mora

 

 

Um de Janeiro:
o amor é não ter
que dizer amo-te

*

O seu riso
faz desta sala aberta
uma câmara de gás

*

Asfixio, inspirando
pelo auricular 
ao marcar o número

*

Abre os olhos,
sem dizer nada,
mas entende-se tudo

*

Três de Fevereiro,
diz-me que não olhe para ela
e ainda estou a vê-la

*

Digo futuro
e descrevo viagens
rompe em silêncio 

*

Sendo tão pequena
como é que pode fazer
um mal tão grande

*

Com o telemóvel consigo
suportar o seu silêncio 
para comigo

*

Mais do que o amo-te
que eu não disse, matam-me
 os que ela me disse a mim

*

Junho, mar de espelho
as ondas enrugam a testa
quero que venha o Inverno

*

Meu sonho cumpriu-se
perdi
meu sonho

*

Vida, migalhas
com uma digestão 
exasperante.


(Trad. A.M.)

 .