DIARIO DE UN AMOR HECHO PEDAZOS
Uno de enero:
el amor es no tener
que decir te quiero
*
Su risa hace
de este salón abierto
cámara de gas
*
Me asfixio inspiro
por el auricular
si marco el número
*
Abre los ojos
no está diciendo nada
y se le entiende todo
*
Tres de febrero:
me dice que no la mire
aún la estoy viendo
*
Digo futuro
y describo viajes
prorrumpe en silencio
*
Siendo tan chica
cómo pudo inventarse
daño tan grande
*
Gracias al móvil consigo
llevar su silencio
conmigo
*
Más que el te quiero
que no dije me matan
los que me dijo
*
Junio: mar espejo
olas arrugan la frente
quiero que llegue el invierno
*
Se cumplió mi sueño
perdí
mi sueño
*
Vida: migajas
con una digestión
desesperante
Vicente Luis Mora
Um de Janeiro:
o amor é não ter
que dizer amo-te
*
O seu riso
faz desta sala aberta
uma câmara de gás
*
Asfixio, inspirando
pelo auricular
ao marcar o número
*
Abre os olhos,
sem dizer nada,
mas entende-se tudo
*
Três de Fevereiro,
diz-me que não olhe para ela
e ainda estou a vê-la
*
Digo futuro
e descrevo viagens
rompe em silêncio
*
Sendo tão pequena
como é que pode fazer
um mal tão grande
*
Com o telemóvel consigo
suportar o seu silêncio
para comigo
*
Mais do que o amo-te
que eu não disse, matam-me
os que ela me disse a mim
*
Junho, mar de espelho
as ondas enrugam a testa
quero que venha o Inverno
*
Meu sonho cumpriu-se
perdi
meu sonho
*
Vida, migalhas
com uma digestão
exasperante.
(Trad. A.M.)