29.11.19

Ana Pérez Cañamares (Meu pai)





MI PADRE LUCÍA JUNTO AL OMÓPLATO
una esquirla de metralla.
Apenas un niño cuando los aviones
atacaron al ganado que cuidaba
y que nunca sirvió de suministro
para los soldados republicanos.

De pequeña yo jugaba con ella
la desplazaba unos milímetros
con mi dedo omnipotente.
Y al tocarla escuchaba los aviones
veía a los terneros reventados
-el terror en sus ojos suplicantes-
y un niño al que la muerte
marca con su hierro.

Mi padre cargaba en sus espaldas
una guerra que no terminó nunca.


Ana Pérez Cañamares




Meu pai tinha num ombro
uma lasca de metralha.
Era quase uma criança quando os aviões
atacaram o gado que ele guardava
e que não era para abastecer
os soldados republicanos.

Eu brincava com ela em pequena
e mexia-a alguns milímetros
com meu dedo omnipotente.
E ao tocar-lhe escutava os aviões,
via os bezerros rebentados
-com o terror nos olhos suplicantes-
e um menino marcado
pela morte com seu ferro.

Essa guerra que meu pai trazia às costas
não terminou nunca.

(Trad. A.M.)

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