15.12.18

Jaime Sabines (Eis aqui que tu estás só)







EIS AQUI QUE TU ESTÁS SÓ E QUE EU ESTOU SÓ.
Fazes tua vida dia a dia e pensas
e eu penso e recordo e estou só.
À mesma hora lembramo-nos algo
e sofremo-nos. Somos como uma droga
tua e minha, percorrendo-nos uma loucura celular
e um sangue rebelde e sem descanso.
Este corpo só vai ficar-me em chaga, 
a carne me caindo troço a troço.
Lonjura e morte.
O estar corrosivo, o mal estar
morrendo é nossa morte.

Eu não sei onde tu estás, já esqueci mesmo
quem és, onde estás, como é que te chamas.
Eu sou só uma parte, um braço apenas,
apenas metade, um braço só.
Recordo-te nesta boca, e nas mãos.
Sei-te com as mãos, os olhos, a língua,
sabes a amor, a doce amor, a carne,
a semente, a flor, cheiras a amor, a ti,
cheiras a sal, sabes a sal, amor, e a mim.
   (...)

Jaime Sabines


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