17.9.10

Lawrence Durrell (Rua de meretrizes)






A rua era de terra barrenta e perfumada, doce depois da chuva, mas não húmida.

De ambos os lados havia casas de meretrizes cujos corpos de um mármore comovente se conservavam modestamente postados diante das suas respectivas portas, como no limiar de um santuário.

Sentavam-se em tripeças, colocadas em plena rua, como as pitonisas, os pés ocultos nas pantufas de cor viva.

A originalidade da iluminação dava a toda a cena as tintas de uma fábula eterna: em vez de ser iluminada do alto, toda a rua recebia a luz de uma série de lâmpadas de carbureto, de chama radiante, pousadas no chão, lançando irreais sombras violetas nas esquinas e sobre as empenas dessas casas de bonecas, nos olhos e nas narinas das locatárias, na submissa doçura dessas trevas de forro de casaco.



- LAWRENCE DURRELL, Justine (3.ª parte), trad. Daniel Gonçalves.


.