6.5.10
Camilo Castelo Branco (Assalteado do dragão do amor)
Eis que, a súbitas, do coração de Calisto ressalta a primeira faísca de amor!
Conheço que este desastre não se devia contar sem grandes prólogos.
Sei que o leitor ficou passado com esta notícia.
Grita que a inverosimilhança é flagrante.
Não pode de boa mente consentir que se lhe desfigure a sisuda fisionomia moral do marido de D. Teodora Figueiroa.
Quer que se limpe da fronte deste homem o estigma de um pensamento adúltero.
Honrados desejos!
Mas eu não posso!
Queria e não posso! (...)
Se Calisto Elói foi de repente assalteado do dragão do amor, como hei-de eu inventar prelúdios e antecedências que a natureza não usou com ele?
Se o homem, espantado, a si mesmo se interrogava, e dizia “isto que é?”, como hei-de eu dizer ao leitor o que foi aquilo?
- CAMILO CASTELO BRANCO, A queda dum anjo (XIV – Tentação-Amor-Poesia)
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