4.1.09

Manuel Alegre (Trinta dinheiros)









TRINTA DINHEIROS





No bengaleiro do mercado público
penduraram o coração.
Vestem o fato dos domingos fáceis.
Não têm rosto
têm sorrisos muitos sorrisos
aprendidos no espelho da própria podridão.
Têm palavras como sanguessugas.
Curvam-se muito.
As mãos parecem prostitutas.
Alma não têm. Penduraram a alma.
Por fora parecem homens.
Custam apenas trinta dinheiros.




Manuel Alegre




Fontes: As Tormentas (35p+bio) / Porto de Abrigo (8p) / DGLB (bio+biblio+excertos+linques)
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