NA RUA DAS MÓNICAS
Nos meus vinte anos,
almoçar em casa de Sofia
era ouvir ferver em cachão,
frigir na cozinha,
arfar a cafeteira da poesia.
frigir na cozinha,
arfar a cafeteira da poesia.
Era ver a ama de Sofia,
e de todos os filhos,
de muitos versos,
de muitos versos,
cuidar de muitas gerações de memórias,
no lar desses versos tão caseiros.
E era beber, ali, na mesa,
uma água que, mais do que a da torneira,
uma água que, mais do que a da torneira,
concitou o mar para cada copo.
Era olhar um rosto de coral
(o que exorciza as Fúrias, na cozinha)
um rosto de mar novo, de geografia.
Era escutar as palavras da boca
do vocábulo grego para sabedoria,
o que me confirma o poder dos nomes,
ao serem Verbo, sobre os seres e as coisas.
Era sentar-me, lado a lado,
no espaço irradiante da volúvel lareira,
no Outono apagada, na Primavera acesa,
e com o fogaréu alimentado
por papéis venais de outra política
(que não a da sua humanidade),
que a prudência mandava destruir no fogo.
Era entrar e sair pela porta das Mónicas,
a das mulheres congregadas
sob invocação da mãe de Agostinho,
o que para mim celebrava também
o amor de mãe, da velha ama, da Poesia.
Fiama Hasse Pais Brandão
Fiama Hasse Pais Brandão
.
.