11.1.09

Eloy Sánchez Rosillo (A certa idade)









A CERTA IDADE





Agora vês claramente que já não te interessam
tanto aquelas coisas que foram até há pouco
o centro da tua vida. Quase tudo
o que guardavas como se fosse
um íntimo tesouro inesgotável
é hoje cinza fria. E nem sequer lutas já
para conseguir o que o acaso não quis
deixar ao teu alcance. Em poucos anos,
Eloy, como mudaste, como te foram
impiedosamente abandonando os sonhos
que te sustentavam a vida. Não é costume,
chegado a certa idade, o homem continuar
efabulando sobre a ventura como nos bons tempos,
em que a juventude inflamava
seus ingénuos desejos. A passagem dos anos
faz-te ver a tua indigência. E sentes-te vazio
nesta tarde lenta de verão
que seria óptima para ti se o teu peito
albergasse ilusão ou, pelo menos, o desejo
de ter ilusões. Tudo flui,
como um rio impossível de quiméricas águas,
junto do ermo onde moras. Nada aqui se detém,
nem tu desejas que nada
se detenha a teu lado.
Que mais dá. Se estás só
é porque assim tem de ser.
Vai caindo a tarde.
Olhas - indiferente, conformado, sem tristeza –
como chegam as sombras. As chamas do crepúsculo
apagam-se ao longe.
E por fim fechas os olhos
e invade-te a noite.



Eloy Sánchez Rosillo

(Trad. A.M.)
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Fontes: A media voz (24p) / Cervantes (bio+17p) / Canal-literatura (currículo+entrevista)


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