EVOCAÇÃO DE SILVES
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Eis, Abu Bacre, saúda os meus lares em Silves e pergunta-lhes
se, como penso, ainda se lembram de mim.
Saúda o Palácio das Varandas da parte de um donzel
que sente perpétua saudade daquele alcácer.
Ali moravam guerreiros como leões e brancas gazelas.
E em que belas selvas e em que belos covis!
Quantas noites passei divertindo-me à sua sombra
com mulheres de cadeiras opulentas e talhe fatigado
brancas e morenas que produziam na minha alma
o efeito das espadas refulgentes e das lanças obscuras!
Quantas noites passei deliciosamente
junto a um recôncavo do rio com uma donzela
cuja pulseira rivalizava com a curva da corrente!
O tempo passava e ela servia-me o vinho do seu olhar
e outras vezes o do seu vaso
e outras o da sua boca.
As cordas do seu alaúde feridas pelo plectro
estremeciam-me como se ouvisse a melodia das espadas
nos tendões do colo inimigo.
Ao retirar o seu manto, descobriu o talhe,
florescente ramo de salgueiro,
como se abre o botão para mostrar a flor.
Mohâmede Almutâmide
- Beja (1040-1095)
Consultar: Inforarte (perfil)
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