(O resto é balbúrdia...)
Entendo que este mundo é religioso e a minha vontade seria falar baixinho, bulir pouco.
Os dias mais felizes da minha vida passei-os ao sol, contemplando.
Não é que deteste a acção.
A acção é o fim da vida.
Mas é preciso distinguir entre acção e agitação.
Compreendo a acção dos santos e dos heróis, a acção pelo bem e pelo cristianismo - a grande acção.
O resto é balbúrdia.
Também há outra acção mais bela talvez ainda, a acção desconhecida e humilde, obscura, feita de exemplos e sacrifícios - a da mulher no seu lar, a do homem que cumpre a existência e que, com os pequenos meios de que dispõe, vai além da vida.
Digamos tudo: toda a acção que não tem um fim idealista ou não representa um sacrifício, não vale nada.
Esta acção exerce-a muito melhor do que eu ali o meu vizinho, que foi ao Porto buscar uma pobre de pedir, que não lhe era nada, trouxe-a para casa e reparte com ela o pão e a malga do caldo, ou a criatura desconhecida que no lar apagado cumpre todos os dias monótonos o seu dever monótono.
Sejamos humildes, porque a gente chega ao fim da vida sem ter entendido nada deste mundo, quanto mais do outro…
- RAUL BRANDÃO, Memórias, III, Balanço à vida.
Os dias mais felizes da minha vida passei-os ao sol, contemplando.
Não é que deteste a acção.
A acção é o fim da vida.
Mas é preciso distinguir entre acção e agitação.
Compreendo a acção dos santos e dos heróis, a acção pelo bem e pelo cristianismo - a grande acção.
O resto é balbúrdia.
Também há outra acção mais bela talvez ainda, a acção desconhecida e humilde, obscura, feita de exemplos e sacrifícios - a da mulher no seu lar, a do homem que cumpre a existência e que, com os pequenos meios de que dispõe, vai além da vida.
Digamos tudo: toda a acção que não tem um fim idealista ou não representa um sacrifício, não vale nada.
Esta acção exerce-a muito melhor do que eu ali o meu vizinho, que foi ao Porto buscar uma pobre de pedir, que não lhe era nada, trouxe-a para casa e reparte com ela o pão e a malga do caldo, ou a criatura desconhecida que no lar apagado cumpre todos os dias monótonos o seu dever monótono.
Sejamos humildes, porque a gente chega ao fim da vida sem ter entendido nada deste mundo, quanto mais do outro…
- RAUL BRANDÃO, Memórias, III, Balanço à vida.