15.9.08

José Fernandes Fafe (Metafísica do encontro)













METAFÍSICA DO ENCONTRO








Se não tivesse sido a esquadra americana, que fez esgotar a cerveja na cidade, eu não teria ido à outra banda beber um fino… Não nos teríamos encontrado, por conseguinte.
Mas, também, se o teu isqueiro não se tem avariado e a tua voz não fosse - até na adversidade! - manselinha (- “Por favor…” Nas comissuras dos lábios, tanto destino cruzado! - “Muito obrigado, Senhor…”) sequer teria reparado em ti…
Qual é a explicação da tua voz? Herdaste-a de teus pais? De teus avós? De que Senhora Aónia és descendente?
“Poeta desempregado…”. espalham para aí os teus. Mas se não fosse um poeta… quem te houvera de amar, ó minha feia? E empregado… como é que eu poderia, às quatro horas da tarde - numa quinta-feira - estar, digam-me lá, na outra banda?
Os marujos… e se eles eram cupidos… (crescidos, americanos, vestidos à marinheira…) que nos feriram com uma seta, teleguiada, certeira…

.

Foram as manobras da NATO…
Foi um isqueiro empanado…
Foram as voltas do Mundo…
Foi uma loucura (dizem os amigos)… que engendrou - cegamente - o nosso encontro em Cacilhas.
Coisa tão bela e absurda como o aparecimento do Homem!



José Fernandes Fafe


.

.

.