REGRESSO
Já voltei a casa, as portas rangem,
o pó tomou conta de todos os móveis,
deixando-me de pé, a balançar as chaves,
e a interrogar-me sobre o que não fiz.
O tempo que resta não é para confissões
nem para ajustes de contas:
pois quem guarda o guardião,
quem despe a roupa das vestais do templo?
A água corre ainda, um fio sequer, de torneiras
em desuso. Respiro e não deixarei de olhar.
Que trabalho é este, oculta e extinta miséria
sob os nossos passos?
As janelas com vidros quebrados, o plástico
por cima dos horizontes perdidos
da transparência. Porque insistes? Porque ficas
à entrada da casa, perdido no olhar
e na memória do que nunca chegou a ser?
LUÍS FILIPE CASTRO MENDES
Outro Ulisses Regressa a Casa
(2015)