16.3.21

Artur Cruzeiro Seixas (A tua boca adormeceu)


A tua boca adormeceu 
parece um cais muito antigo 
à volta da minha boca. 

Mas as palavras querem voltar à terra 
ao fogo do silêncio que sustém as pontes 
perdidas na sua própria sombra. 

E há um cão de pedra como um fruto 
que nos cobre com o seu uivo 
enquanto pássaros de ouro com mãos de marfim 
transplantam as árvores transparentes 
para o ponto mais fundo do mar. 

As lágrimas que não chorei 
arrependidas 
fazem transbordar a eterna agonia do mar 
como um lençol fúnebre 
com que tivesse alguém coberto o rosto metafórico 
dos cinco continentes que em nós existem. 

Assim é ao mesmo tempo 
que sou eu e não o sou 
aquele relógio das horas de ouro 
que além flutua. 


Artur do Cruzeiro Seixas


>>  Aberta no tempo (50p) / U.Lusiada (bio) / USP (tese) / Wikipedia

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