4.6.24

Mario Quintana (Aula inaugural)

 



AULA INAUGURAL 

 

É verdade que na Ilíada não havia tantos heróis
como na guerra do Paraguai
mas eram bem falantes
e todos os seus gestos eram ritmados como num balé
pela cadência de metros homéricos.
Fora do ritmo só a danação.
Fora da poesia não há salvação.
A poesia é dança e a dança é alegria.
Dança, pois, teu desespero, dança.
Tua miséria, teus arrebatamentos,
teus júbilos
e,
mesmo que temas imensamente a Deus,
dança como David diante da Arca da Aliança;
mesmo que temas imensamente a morte
dança diante da tua cova.
Tece coroas de rimas...
Enquanto o poema não termina
a rima é como uma esperança
que eternamente se renova.
A canção, a simples canção, é uma luz dentro da noite.
(Sabem todas as almas perdidas...)
O solene canto é um archote nas trevas.
(Sabem todas as almas perdidas...)
Dança, encantado dominador de monstros,
tirano das esfinges,
dança, Poeta,
e sob o aéreo, o implacável, o irresistível
ritmo de teus pés,
deixa rugir o Caos atônito...


Mario Quintana

[Quintana Eterno]

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