O Raul Leal era
o único verdadeiro doido do "Orpheu".
Ninguém lhe invejasse aquela luxúria de fera?
Invejava-a eu.
Três fortunas gastou, outras três deu
ao que da vida não se espera
e à que na morte recebeu.
O Raul Leal era
o único não-heterónimo meu.
Eu nos Jerónimos ele na vala comum
que lhe vestiu o nome e o disfarce
(Dizem que está em Benfica) ambos somos um
dos extremos do mal a continuar-se.
Não deixou versos? Deixei-os eu,
infelizmente, a quem mos deu.
O Almada? O Santa-Ritta? O Amadeo?
Tretas da arte e da era. O Raul era
Orpheu.
Mário Cesariny
[Escritas]