3.9.22

Raúl Gustavo Aguirre (Também eu estou destroçado)



Yo también estoy destrozado
a pesar de que (dentro de mis limitadas posibilidades) visto correctamente,
me afeito todos los días, excepto los domingos,
visito mensualmente al peluquero y de vez en cuando al dentista,
lustro mis zapatos y desempeño con aplicación ciertos oficios irreales
tales como bibliotecario, profesor y jefe de familia.
Y aunque Rimbaud me pasma y admiro a Gottfried Benn, 
quien dijo que el cerebro es nuestra tarea y nuestra maldición,
y soy capaz como cualquiera de entusiasmarme con la pampa
cuando viajo y exclamar: ¡qué increíble país!,
y no exhibo ninguna actitud filosófica original con respecto
al desgarramiento que significa la existencia,
yo también, mis amigos, yo también, les juro y aseguro,
yo también estoy destrozado. 

Cuándo empezó a romperse todo en mí no sabría decirlo.
Posiblemente fue cuando vi llorar a mi abuelo por falta de trabajo
o cuando vi llorar a mi padre por el mismo motivo,
o cuando un capitán me trató de piojoso
o cuando vi apalear a mis amigos
por la simple razón de soñar en voz alta
o cuando vi una prímula en la hierba
o cuando vi el fantasma de una estrella de mar, seco en una vitrina. 

No sabría decir cuándo empezó a romperse todo en mí,
cuándo fui destruido por una infinita desazón
cuándo se puso amarga la belleza en mi copa
pero lo cierto, amigos,
y a pesar de que bajo determinadas condiciones me
conduzco de un modo bastante razonable,
yo también soy un hombre de los que arrastran sus pedazos
por una tierra sin sentido.
 

Raúl Gustavo Aguirre

[Otra iglesia]

 

 

Eu também estou destroçado,
apesar de (dentro das minhas possibilidades) vestir correctamente,
de fazer a barba todos os dias, menos aos domingos,
de ir ao barbeiro uma vez por mês e ao dentista de vez em quando,
de engraxar os sapatos e exercer certos múnus irreais,
como bibliotecário, professor ou chefe de família.
E embora Rimbaud me assombre e admire também Gottfried Benn,
que disse ser o cérebro nossa tarefa e maldição,
eu sou capaz como outro qualquer de me entusiasmar com a pampa,
em viagem, e exclamar: ‘que país incrível!’,
aliás não tenho qualquer postura filosófica original com respeito
à ruptura que implica a existência,
eu também, meus amigos, também eu, juro-vos e asseguro-vos,
também eu estou destroçado.

Quando é que começou tudo a partir-se em mim, não saberia dizê-lo,
se calhar foi quando vi o meu avô a chorar por falta de trabalho,
ou quando vi chorar o meu pai pelo mesmo motivo,
ou quando um capitão me chamou de piolhoso,
ou quando vi os meus amigos agredidos
pela simples razão de sonharem em voz alta,
ou quando vi uma prímula no meio da erva,
ou o fantasma de uma estrela do mar, seco numa vitrina.

Não saberia dizer quando é que começou tudo a partir-se em mim,
quando se apossou de mim um terrível mal-estar,
quando se tornou amarga a beleza no meu copo,
mas o certo, meus amigos,
apesar de eu me portar bastante bem em certas condições,
o certo é que também eu sou um homem desses
que arrastam os seus bocados
por uma terra sem sentido.


(Trad. A.M.)

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