Yo
también estoy destrozado
a pesar
de que (dentro de mis limitadas posibilidades) visto correctamente,
me
afeito todos los días, excepto los domingos,
visito
mensualmente al peluquero y de vez en cuando al dentista,
lustro
mis zapatos y desempeño con aplicación ciertos oficios irreales
tales
como bibliotecario, profesor y jefe de familia.
Y aunque
Rimbaud me pasma y admiro a Gottfried Benn,
quien
dijo que el cerebro es nuestra tarea y nuestra maldición,
y soy
capaz como cualquiera de entusiasmarme con la pampa
cuando
viajo y exclamar: ¡qué increíble país!,
y no
exhibo ninguna actitud filosófica original con respecto
al
desgarramiento que significa la existencia,
yo
también, mis amigos, yo también, les juro y aseguro,
yo
también estoy destrozado.
Cuándo
empezó a romperse todo en mí no sabría decirlo.
Posiblemente
fue cuando vi llorar a mi abuelo por falta de trabajo
o cuando
vi llorar a mi padre por el mismo motivo,
o cuando
un capitán me trató de piojoso
o cuando
vi apalear a mis amigos
por la
simple razón de soñar en voz alta
o cuando
vi una prímula en la hierba
o cuando
vi el fantasma de una estrella de mar, seco en una vitrina.
No
sabría decir cuándo empezó a romperse todo en mí,
cuándo
fui destruido por una infinita desazón
cuándo
se puso amarga la belleza en mi copa
pero lo
cierto, amigos,
y a
pesar de que bajo determinadas condiciones me
conduzco
de un modo bastante razonable,
yo
también soy un hombre de los que arrastran sus pedazos
por una
tierra sin sentido.
Raúl
Gustavo Aguirre
Eu também estou destroçado,
apesar de (dentro das minhas possibilidades) vestir correctamente,
de fazer a barba todos os dias, menos aos domingos,
de ir ao barbeiro uma vez por mês e ao dentista de vez em quando,
de engraxar os sapatos e exercer certos múnus irreais,
como bibliotecário, professor ou chefe de família.
E embora Rimbaud me assombre e admire também Gottfried Benn,
que disse ser o cérebro nossa tarefa e maldição,
eu sou capaz como outro qualquer de me entusiasmar com a pampa,
em viagem, e exclamar: ‘que país incrível!’,
aliás não tenho qualquer postura filosófica original com respeito
à ruptura que implica a existência,
eu também, meus amigos, também eu, juro-vos e asseguro-vos,
também eu estou destroçado.
Quando é que começou tudo a partir-se em mim, não saberia dizê-lo,
se calhar foi quando vi o meu avô a chorar por falta de trabalho,
ou quando vi chorar o meu pai pelo mesmo motivo,
ou quando um capitão me chamou de piolhoso,
ou quando vi os meus amigos agredidos
pela simples razão de sonharem em voz alta,
ou quando vi uma prímula no meio da erva,
ou o fantasma de uma estrela do mar, seco numa vitrina.
Não saberia dizer quando é que começou tudo a partir-se em mim,
quando se apossou de mim um terrível mal-estar,
quando se tornou amarga a beleza no meu copo,
mas o certo, meus amigos,
apesar de eu me portar bastante bem em certas condições,
o certo é que também eu sou um homem desses
que arrastam os seus bocados
por uma terra sem sentido.
(Trad. A.M.)