começamos a envelhecer
quando inventariamos as dores
as memórias a esquadria do coração
e dos pulmões e da garganta
e das mãos distorcidas pelo gesto
de transformar o disforme em estrelas
ou em vésperas de afogamento voluntário.
começamos a beber o passado
e a ancorar nas ausências o macro antibiótico
da sombra em machado de granizo
sobre os cabelos.
envelhecemos quando a porta à nossa frente
já é inconciliável com a luz
e resta apenas uma língua morta
para escrever adeus na bainha de um vestido apertado.
fica entre os outros o ouro do outro
futuro
que de nós nem o nevoeiro.
Isabel Mendes Ferreira