ALTAR
Até ti vim, buscando
o que não encontrei nunca na linguagem.
Aqui, sobre este chão
onde aprendemos o nome das coisas,
faremos um altar e, todas as tardes,
com as últimas febres
do trigo e com os ocres
cansados destes cerros, ergueremos
uma casa feita apenas
da matéria frágil dos nomes.
E nas paredes tatuaremos
a pele da nossa sombra.
Faremos um altar e sobre ele
veremos como ardem, sem extinguir-se,
tua memória e a minha, enlaçadas
na mesma sede, na mesma lembrança.
Não importa que ardesse
quanto tivemos, não importa
este rasto de ruínas
que o tempo nos vai deixando à passagem;
nem importa já sequer que o mundo em volta
seja um largo campo de derrotas.
São tuas mãos a casa; teus olhos, o desvão
onde crescemos esperando-nos;
e teus lábios a página
onde se escuta o ruído
da infância, a voz dos saguões
e o rumor dos pátios.
Em ti vim buscar o que não soube
achar nas palavras:
o que tem de olvido e de refúgio,
o que tem de nome
nunca escrito, tua carne.
PEDRO A. GONZÁLEZ MORENO
(2013)
(Trad. A.M.)
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