(Início)
Tersa gente esta, de almas baldias, vontades torcidas pelo
frio que aperta, amolecidas pelo sol que expande.
Ando aqui a ganhar a morte.
Nestes campos de giesta, engatadas raízes no chão, tão
presas de seiva e vontade que não as pode a força de um homem arrancar.
Ervas daninhas mais difíceis de vergar do que um pinheiro
bravo à machadada.
O pinheiro deixa o coto apodrecido, vã ruína orgânica, mas
as raízes das giestas mantêm-se sorrateiras, infiltrantes, debaixo da terra, a
aguardar melhor ocasião para levantar haste.
E, mal um homem vira costas, lá estão elas, sob os pés,
soturnas, insinuantes, sôfregas de todas as pingas de água, a saciarem-se, a
exaurirem as lavouras, sem sequer a gentileza de uma sombra, só pasto de
insectos, refúgio de furões, conspiração do matagal.
Assim ando eu.
Entre mato rasteiro e bravio.
Que a vida sempre me foi um ferro de engomar.
Quando há um prego que se destaca, martela-se.
E no entanto, mesmo amolgado e enterrado, continua lá.
De quem é o carvalhal?
ANA MARGARIDA DE CARVALHO
Que importa a fúria do mar
(2013)
Que importa a fúria do mar
(2013)
.