5.12.09

José Emilio Pacheco (Nuvens)






NUBES



En un mundo erizado de prisiones
sólo las nubes arden siempre libres.

No tienen amo, no obedecen órdenes,
inventan formas, las asumen todas.

Nadie sabe si vuelan o navegan,
si ante su luz el aire es mar o llama.

Tejidas de alas son flores del agua,
arrecifes de instantes, red de espuma.

Islas de niebla, flotan, se deslíen
y nos dejan hundidos en la Tierra.

Como son inmortales nunca oponen
fuerza o fijeza al vendaval del tiempo.

Las nubes duran porque se deshacen.
su materia es la ausencia y dan la vida.


José Emilio Pacheco (*)



[Noctambulario]






Num mundo eriçado de prisões
só as nuvens ardem sempre livres.

Não têm amo, nem conhecem ordens,
inventam formas, assumem-nas todas.

Ninguém sabe se navegam ou voam,
se ante sua luz o ar é mar ou chama.

Tecidas de asas são flores de água,
recifes de instantes, rede de espuma.

Flutuam, ilhas de névoa, desligam-se
e deixam-nos sumidos na Terra.

Como são imortais jamais opõem
resistência ou força ao vendaval do tempo.

Duram as nuvens porque se desfazem.
Sua matéria é a ausência e dão a vida.



(Trad. A.M.)


(*) Prémio Cervantes-2009

.