NUBES
En un mundo erizado de prisiones
sólo las nubes arden siempre libres.
No tienen amo, no obedecen órdenes,
inventan formas, las asumen todas.
Nadie sabe si vuelan o navegan,
si ante su luz el aire es mar o llama.
Tejidas de alas son flores del agua,
arrecifes de instantes, red de espuma.
Islas de niebla, flotan, se deslíen
y nos dejan hundidos en la Tierra.
Como son inmortales nunca oponen
fuerza o fijeza al vendaval del tiempo.
Las nubes duran porque se deshacen.
su materia es la ausencia y dan la vida.
José Emilio Pacheco (*)
[
Noctambulario]
Num mundo eriçado de prisões
só as nuvens ardem sempre livres.
Não têm amo, nem conhecem ordens,
inventam formas, assumem-nas todas.
Ninguém sabe se navegam ou voam,
se ante sua luz o ar é mar ou chama.
Tecidas de asas são flores de água,
recifes de instantes, rede de espuma.
Flutuam, ilhas de névoa, desligam-se
e deixam-nos sumidos na Terra.
Como são imortais jamais opõem
resistência ou força ao vendaval do tempo.
Duram as nuvens porque se desfazem.
Sua matéria é a ausência e dão a vida.
(Trad. A.M.)
(*)
Prémio Cervantes-2009
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