AUTORRETRATO
De la guerra quedó el viejo capote
de un desertor sobre mi cama.
En la noche sentía el tacto áspero
de aquellos años, que no fueron
los más felices de mi vida.
Sin embargo, el pasado acaba siendo
fraternidad de lobos y melancolía
por un paisaje que falsea el tiempo.
Queda el amor - no la filosofía
que es igual que una ópera - y nada
de poeta maldito: tengo miedo
pero me apaño sin idealismo.
Las lágrimas a veces se deslizan
tras el cristal oscuro de las gafas.
La vida es un capote de desertor.
Joan Margarit (*)
Da guerra ficou o velho capote
de um desertor na minha cama.
De noite sentia o tacto áspero
desses anos, que não foram
os mais felizes da minha vida.
Contudo, o passado acaba sendo
irmandade de lobos e melancolia
duma paisagem que o tempo falseia.
Resta o amor – não a filosofia
que é igual a uma ópera – e nada
de poeta maldito: tenho medo
mas abrigo-me sem idealismo.
Às vezes as lágrimas deslizam
por trás do vidro escuro dos óculos.
A vida é um capote de desertor.
(Trad. A.M.)
(*) Joan Margarit em Lisboa / Casa Fernando Pessoa / 14 Dez. 2009 - 18,30 horas
- Apresentação do seu livro "Casa da Misericórdia", ed. ovni
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