(Um grande cabrão...)
Dito isto, talvez fique também explicado porque é que, por exemplo, uma certa ocasião, um dia em que recebi de manhã o vale de correio do meu pai, julguei sentir-me rico e ter uma alma apodrecida e capitalista e fui deliberadamente ao Café La Rotonde beber champanhe e ali, sem que naturalmente ninguém se pudesse aperceber disso, dediquei-me a desforrar-me interiormente e a flartar com a minha mente e a ir trasformando-a numa mente monstruosa – hoje vejo-o com muita nitidez – tentando não desaproveitar todas as possibilidades de ser um grande cabrão, que eu dizia para comigo que podia ser, se quisesse.
- ENRIQUE VILA-MATAS, Paris nunca se acaba, 97.
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