ESCRITURA
POÉTICA
Escribo
porque escribo,
escribo
por lo mismo que la rosa florece.
Escribo
para nada, sólo para escribir,
igual
que el río fluye para seguir fluyendo,
para no
desbordarse,
para
hacer lo que un río debe hacer.
Escribo,
a ratos, como si bailara,
siguiendo
el ritmo de una música
lejana,
o muy de dentro.
Pero
escribo también
-y sobre
todo-
desde
una quietud
asombrada,
dejando
constancia
del misterio,
de este
eterno
instante
que es la vida,
con
breves testimonios,
con
fugaces imágenes,
con
palabras que copio del destino
-libro
abierto al azar-
y que a
veces consiguen sorprenderme.
Escribo,
en todo caso,
siempre
al dictado de una voz callada,
que se
hace escuchar
precisamente
por callada.
Escribo
y escribo.
Escribiré
hasta
que Dios o el tiempo así lo quieran.
No el
poema que sueño algunos días
cuando
no tengo el lápiz en la mano.
No:
escribo
-escribiré-
el
extraño poema que me sienta a la mesa
sin
pedirme otro esfuerzo
que el
mismo del frutal para dar fruto.
El poema
que surge, inesperado,
como un
relámpago en la noche
o un
claro entre las nubes;
o, más
humildemente,
como un
grupo de versos o líneas
que de
tarde en tarde se me ocurren.
Escrevo porque escrevo,
pela mesma razão que a rosa floresce.
Escrevo para nada, só por escrever,
tal como rio corre para continuar a correr,
para não transbordar,
para fazer o que um rio deve fazer.
Escrevo, com intervalos, como se bailasse,
seguindo o ritmo de uma música
distante, ou de cá de dentro-
Mas escrevo também
– e acima de tudo –
de uma quietude assombrada, deixando
registo do mistério,
desse eterno instante
que é a vida,
com breves testemunhos,
fugazes imagens,
palavras que copio do destino
– livro aberto ao acaso –
e que às vezes conseguem surpreender-me.
Escrevo, em qualquer caso,
ouvindo sempre o ditado de uma voz
silenciosa, que se faz escutar,
precisamente por silenciosa.
Escrevo e escrevo.
E escreverei
até que Deus e o tempo assim o queiram.
Não o poema que sonho alguns dias
quando não tenho o lápis na mão.
Não:
Escrevo – escreverei –
o estranho poema que me faz sentar à mesa
sem pedir-me outro esforço
que a própria árvore para dar fruto.
O poema que surge, inesperado,
como um relâmpago na noite
ou uma limpaça entre as nuvens;
ou, mais humildemente,
como um conjunto de versos ou linhas
que de tarde em tarde me ocorrem.
(Trad. A.M.)