22.5.21

Adolfo González (Escrita poética)



ESCRITURA POÉTICA

  

Escribo porque escribo,
escribo por lo mismo que la rosa florece. 

Escribo para nada, sólo para escribir,
igual que el río fluye para seguir fluyendo,
para no desbordarse,
para hacer lo que un río debe hacer. 

Escribo, a ratos, como si bailara,
siguiendo el ritmo de una música
lejana, o muy de dentro.
Pero escribo también
-y sobre todo-
desde una quietud
asombrada, dejando
constancia del misterio,
de este eterno
instante que es la vida,
con breves testimonios,
con fugaces imágenes,
con palabras que copio del destino
-libro abierto al azar-
y que a veces consiguen sorprenderme.

Escribo, en todo caso,
siempre al dictado de una voz callada,
que se hace escuchar
precisamente por callada.

Escribo y escribo.
Escribiré
hasta que Dios o el tiempo así lo quieran.
No el poema que sueño algunos días
cuando no tengo el lápiz en la mano.
No:
escribo -escribiré-
el extraño poema que me sienta a la mesa
sin pedirme otro esfuerzo
que el mismo del frutal para dar fruto.
El poema que surge, inesperado,
como un relámpago en la noche
o un claro entre las nubes;
o, más humildemente,
como un grupo de versos o líneas
que de tarde en tarde se me ocurren.

 
Adolfo González

 

 

Escrevo porque escrevo,
pela mesma razão que a rosa floresce.

Escrevo para nada, só por escrever,
tal como rio corre para continuar a correr,
para não transbordar,
para fazer o que um rio deve fazer.

Escrevo, com intervalos, como se bailasse,
seguindo o ritmo de uma música
distante, ou de cá de dentro-
Mas escrevo também
– e acima de tudo –
de uma quietude assombrada, deixando
registo do mistério,
desse eterno instante
que é a vida,
com breves testemunhos,
fugazes imagens,
palavras que copio do destino
 – livro aberto ao acaso –
e que às vezes conseguem surpreender-me.

Escrevo, em qualquer caso,
ouvindo sempre o ditado de uma voz
silenciosa, que se faz escutar,
precisamente por silenciosa.

Escrevo e escrevo.
E escreverei
até que Deus e o tempo assim o queiram.
Não o poema que sonho alguns dias
quando não tenho o lápis na mão.
Não:
Escrevo – escreverei –
o estranho poema que me faz sentar à mesa
sem pedir-me outro esforço
que a própria árvore para dar fruto.
O poema que surge, inesperado,
como um relâmpago na noite
ou uma limpaça entre as nuvens;
ou, mais humildemente,
como um conjunto de versos ou linhas
que de tarde em tarde me ocorrem.

(Trad. A.M.)

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