7.9.20

Sara Mesa (Caem as horas)






Caen las horas como gotas de aceite,
pesadas, lentas, doradas, tibias.
El aire está inflamado de plegarias,
de cánticos oscuros y enigmáticos.
Yo sé que algo sucede.
Debe de ser que es jueves y algo pasa los jueves.
Debe de ser que es lunes y algo pasa los lunes.
Debe de ser que es sábado y algo pasa los sábados.
¿Por qué no quedan huellas de mis pies
en este asfalto ardiente?
Debe de ser que no peso bastante.
Debe de ser que está lejos la arena.
Debe de ser que el tiempo pasa lento
y aún no te he encontrado.

Se suceden las horas como un hondo rosario,
como un rosario en sombras.
Yo debería pensar ahora en otras luces,
nadar con otros peces.
Aquí estoy resguardada.
La lluvia no me moja.
Mis párpados se cierran sin asombro.

El tiempo pasa lento;
no duele, no me toca.


Sara Mesa




Caem as horas como gotas de óleo,
pesadas, lentas, douradas, mornas.
O ambiente está inflamado de orações,
de cânticos enigmáticos.
Algo se passa, eu bem sei.
Há-de ser por ser quinta-feira e algo acontece às quintas.
Ou então é segunda e algo acontece às segundas.
Ou sábado e algo acontece aos sábados.
Porque não me ficam as marcas dos pés neste asfalto ardente?
Deve ser de não pesar o bastante,
deve ser de a areia estar longe,
deve ser de o tempo passar devagar
e eu não te ter ainda encontrado.

Sucedem-se as horas como um longo rosário,
como um rosário sombrio.
Eu devia pensar agora em outras luzes,
nadar com outros peixes.
Aqui eu estou resguardada,
a chuva não me molha,
os olhos cerram-se-me sem espanto.

O tempo passa devagar
- não dói, não me toca,

(Trad. A.M.)

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