28.8.20

Benjamín Prado (Nunca é tarde)





Nunca es tarde para empezar de cero,
para quemar los barcos,
para que alguien te diga:
–Yo solo puedo estar contigo o contra mí.

Nunca es tarde para cortar la cuerda,
para volver a echar las campanas al vuelo,
para beber de esa agua que no ibas a beber.

Nunca es tarde para romper con todo,
para dejar de ser un hombre que no pueda
permitirse un pasado.

Y además
es tan fácil:
llega María, acaba el invierno, sale el sol,
la nieve llora lágrimas de gigante vencido
y de pronto la puerta no es un error del muro
y la calma no es cal viva en el alma
y mis llaves no cierran y abren una prisión.

Es así, tan sencillo de explicar: –Ya no es tarde,
y si antes escribía para poder vivir,
    ahora
           quiero vivir
                     para contarlo.


BENJAMÍN PRADO
Ya no es tarde
(2014)

[Un poema cada dia]



Nunca é tarde para começar do zero,
para queimar os barcos,
para alguém te dizer:
- Eu só posso estar contigo ou contra mim.

Nunca é tarde para cortar a corda,
para voltar a deitar foguetes,
para beber daquela água que não ias beber.

Nunca é tarde para romper com tudo,
para deixar de ser
um homem sem passado.

E depois
é tão fácil,
vem a Maria, acaba o inverno, o sol aparece,
a neve chora lágrimas de gigante vencido
e de repente a porta não é já um erro do muro
e a calma não é cal viva da alma
e minhas chaves não abrem nem fecham uma prisão.

É assim, tão simples de explicar: - Já não é tarde,
e se dantes eu escrevia para poder viver,
    agora
           quero viver
                        para depois o contar.

(Trad. A.M.)

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