METÁSTASIS
Buena palabra para darle al perro
criminal del vecino, o al temible
jefe que nos amarga con sandeces,
pero qué rara nos resulta pronunciada
por la voz triturada de un amigo
con ojos excavados en un rostro
que no parece el suyo. Desde antiguo
sabe escoger la muerte sus pseudónimos.
Prefiere los eufónicos vocablos
alzados en tacones de prestigio
científico. Enciende un cigarrillo
mi amigo y yo contemplo el grano negro
que en su pulmón emite una sentencia
de muerte que otro grano en su garganta
o en su páncreas repite. Qué hago ahora
con mis ganas de celebrar el mundo.
Tres, cinco meses más, qué harías tú,
pregunta sin mirarme envuelto en humo.
Se vive dentro del visor del arma
arbitraría de un francotirador
apostado en quién sabe qué tejado,
el dedo preparado en el gatillo.
Camino por la calle soleada,
siento en la nuca la mirada torva
del francotirador que me asignaron.
Se vive dentro del visor de un arma
que será disparada por borrarte.
No le ahorres trabajo al asesino.
Bela palavra para dar ao filho da mãe
do cão do vizinho, ou ao temível
chefe que nos aborrece com merdices,
mas tão estranha nos parece pronunciada
pela voz triturada de um amigo
de olhos escavados num rosto
que não parece o dele. De há muito
sabe a morte escolher seus pseudónimos,
preferindo eufónicos vocábulos
com os saltos altos do prestígio
científico. Meu amigo acende
um cigarro e eu contemplo o grãozinho
negro que emite no seu pulmão uma sentença
de morte, que outro grão lhe repete na garganta
ou no pâncreas. O que é que eu faço agora
com minha vontade de celebrar o mundo?
Mais três meses, cinco, o que farias tu,
diz-me ele, sem me encarar, envolto em fumo?
Vivemos dentro do visor da arma
arbitrária de um franco-atirador
postado sabe-se lá em que telhado,
com o dedo preparado no gatilho.
Caminho pela rua soalheira,
sentindo na nuca o olhar turvo
do franco-atirador que me destinaram.
Vivemos dentro do visor de uma arma
que será disparada para nos apagar.
Não poupemos o trabalho ao assassino.
do cão do vizinho, ou ao temível
chefe que nos aborrece com merdices,
mas tão estranha nos parece pronunciada
pela voz triturada de um amigo
de olhos escavados num rosto
que não parece o dele. De há muito
sabe a morte escolher seus pseudónimos,
preferindo eufónicos vocábulos
com os saltos altos do prestígio
científico. Meu amigo acende
um cigarro e eu contemplo o grãozinho
negro que emite no seu pulmão uma sentença
de morte, que outro grão lhe repete na garganta
ou no pâncreas. O que é que eu faço agora
com minha vontade de celebrar o mundo?
Mais três meses, cinco, o que farias tu,
diz-me ele, sem me encarar, envolto em fumo?
Vivemos dentro do visor da arma
arbitrária de um franco-atirador
postado sabe-se lá em que telhado,
com o dedo preparado no gatilho.
Caminho pela rua soalheira,
sentindo na nuca o olhar turvo
do franco-atirador que me destinaram.
Vivemos dentro do visor de uma arma
que será disparada para nos apagar.
Não poupemos o trabalho ao assassino.
(Trad. A.M.)
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