ANIMAIS DE FOGO (*)
Um dia
o homem é posto à prova, interrogado
pelas areias moventes;
desaba sobre ele a tempestade
que o quer afogar.
Cautela com os animais de fogo!
Passou o tempo da viola.
Também não aceito cantar as Índias
mentirosas. Segue carta
explicando como a paz começa.
Há sempre um barco para embarcar,
um pé de videira para a sede.
No ano mais desabrigado da minha vida
não posso deixar que a tristeza
sujeite estes versos. Não quero deixar.
Eu estou quase a nascer outra vez
após alguns tropeços e febres malignas,
estou na margem florida do meu continente.
Não posso, não quero, não me vou deixar
transformar num poeta azedo.
Fernando Assis Pacheco
(*) Há uma outra versão primitiva, em "Cuidar dos Vivos" (1963).
.