A FILHA
Ajudai-me a cantar a filha.
Preciso de cantar
esta alegria simples que se abate
sobre uns ombros mesquinhos.
És tu a baga vermelha;
e vou até ao fim da vida
sorvendo o teu sumo;
e quando tantas voltas
me ainda faltam
chegas tu para arrancar
de vez algumas torvas raízes
presas ao coração.
Agosto não me diz nada.
Luanda é uma luz de pedra.
E quanto aos versos
há-de vir outro tempo
certamente mais feliz, mais
limpo do que este
na Rua Bocage entre duras
acácias da Câmara.
Preciso de cantar a filha.
Ajudai-me a cantar
os baços, incertos olhos.
A mão direita apertada.
A nenhuma aflição
do seu peito manso.
Coisas que não entendo;
pergunto e não entendo,
sequer ouvia alguém.
Ajudai-me que estou
sentado e só, aflito
num banco da Restinga.
Luanda é a noite
despojada de estrelas.
Não merece esta filha.
Fernando Assis Pacheco.